Moléculas sintéticas
Moléculas com dupla atividade sintetizadas em pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP poderão dar origem a fármacos que possuem ao mesmo tempo ação anti-inflamatória e anti-bacteriana.
O estudo da farmacêutica Tatiane Ferreira utiliza processos básicos de síntese, que poderão ser reproduzidos facilmente em escala industrial, sem aumentar os custos de produção.
Piridina
A cientista utilizou a piridina, uma substância comercial heterocíclica presente em diversos fármacos.
"Nas moléculas heterocíclicas, os átomos de carbono que formam anéis aromáticos se combinam com outros elementos", explica a professora Cristina Northfleet,da FCF, que orienta a pesquisa.
Dupla ação
Para obter os compostos com dupla atividade, a piridina é combinada a outros grupamentos com possível ação antibacteriana para gerar novas estruturas moleculares.
"Os processos inflamatórios possuem várias causas, como lesões físicas, traumas e ação de bactérias", conta a professora. "Ao se fazer a síntese de uma molécula anti-inflamatória com estruturas de atividade antibacteriana, é possível obter um fármaco que também age numa das causas da inflamação, reduzindo custos de produção e os riscos de efeitos colaterais decorrentes do uso de dois medicamentos distintos simultaneamente".
Reações químicas
A síntese das moléculas envolve duas reações básicas. "A piridina com dois grupamentos ácidos, passa por uma desidratação com anidrido acético, formando o anidrido quinolítico", explica Ferreira. "O anidrido é combinado com aminas contendo diferentes grupos químicos em sua estrutura, para gerar derivados com estruturas diferentes". Os resultados prévios da pesquisa apontam que a combinação com aminas do grupamento nitro (NO2) geram moléculas com maior potencial para a dupla atividade.
Mal-estar causado pela inflamação
Ao mesmo tempo, também é testada a síntese da piridina com aminas dos tipos metil, bromo, cloro, flúor e CF3. Depois da síntese e da identificação da estrutura das moléculas, serão realizados testes para confirmar a dupla atividade. "O efeito anti-inflamatório será verificado a partir do efeito inibitório de COX2, a enzima que gera o mal-estar associado a inflamação", aponta Northfleet. "Para que a molécula seja considerada eficiente, é preciso que ela iniba a ação desta enzima.".
A padronização desse teste será feita no Instituto Butantan, para que os exames sejam continuados na FCF. "O efeito anti-bacteriano vai ser testado em cepas-padrão existentes nos laboratórios da Faculdade", completa a professora. "Os resultados finais das duas análises deverão ser conhecidos até dezembro".Paralelamente, serão realizados testes de citotoxicidade e mutagenicidade com as moléculas sintetizadas, por meio de um convênio com a Universidade de Parma (Itália).
Toxicidade
"É necessário saber se a molécula pode provocar toxicidade celular a curto ou médio prazo, e qual o potencial mutagênico decorrente da emissão de radicais-livres", afirma Cristina Northfleet. "Atualmente, a preocupação com possíveis efeitos colaterais dos fármacos faz com que eles sejam verificados durante o desenvolvimento das moléculas, bem antes dos testes em animais e seres humanos".
Tatiane Ferreira ressalta que o desenvolvimento das moléculas é feito a partir de processos básicos de síntese, que podem ser facilmente adaptáveis em grande escala. "A determinação dos solventes utilizados, da temperatura e do tempo da reação levam em conta os padrões da produção industrial", explica a farmecêutica. "Também é analisada a geração de resíduos, de modo que a maior parte dos subprodutos possa ser reaproveitada".
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