Cérebro cientista
Parece haver uma semelhança notável entre o modo como o cérebro humano determina o que está acontecendo no mundo exterior e o trabalho dos cientistas.
Fazer ciência envolve a formulação de uma hipótese e, a seguir, testar se essa hipótese é compatível com as observações do cientista.
Pesquisadores do Instituto Max Planck, na Alemanha, e da Universidade de Glasgow, na Escócia, demonstraram que é exatamente isso o que o cérebro faz quando enxergamos pessoas e objetos.
Cérebro adivinho
Os cientistas basearam esta conclusão nas características das respostas no córtex visual primário. Sabe-se que o córtex visual primário é essencial para a visão e que as respostas nesta área do cérebro criam um mapa daquilo para o que a pessoa está olhando.
Agora, pela primeira vez, os pesquisadores mostraram que as imagens induzem respostas menos intensas nesta área do cérebro quando essas imagens são previsíveis.
Isso implica que o cérebro não se limita a sentar e esperar que os sinais visuais cheguem. Em vez disso, ele tenta ativamente prever esses sinais e, quando acerta, é recompensado por ser capaz de responder de forma mais eficiente e gastando menos energia.
Se estiver errado, serão necessárias respostas maciças para descobrir o que está errado e tornar-se capaz de fazer melhores previsões.
Hipóteses cerebrais
Uma implicação deste estudo é que, quando você entra no escritório e vê na mesa aquele colega que tem a irritante mania de chegar sempre antes de você, isto exigirá um esforço mínimo do seu cérebro porque esta é uma cena comum e previsível.
Mas se quem estiver na cadeira for, de forma totalmente inesperada, a sua sogra, por exemplo, isso quase faria o seu cérebro entrar em parafuso.
Isto sugere, afirmam os pesquisadores, que a principal função do cérebro, semelhante à de um cientista, é o de gerar hipóteses sobre o que está acontecendo no mundo exterior.
O estudo, publicado no Journal of Neuroscience, representa um avanço significativo na compreensão de como o cérebro dá suporte à percepção visual.
Cientista dentro da cabeça
Uma implicação importante deste estudo é que a percepção visual depende de uma geração ativa das previsões, o que contrasta com a visão clássica de que a percepção visual decorreria principalmente de uma cascata de respostas quase passivas aos sinais visuais que se espalham pelo cérebro.
Mais pesquisas serão ainda necessárias para determinar se realmente cada um de nós leva consigo um pequeno cientista dentro da cabeça.
Mas a ideia de um "cérebro científico" está se espalhando rapidamente por toda a comunidade das neurociências e oferece uma nova abordagem para decifrar como o órgão mais complexo do corpo humano funciona.
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