17/10/2022

Blastoides humanos: Esperança médica, mas com profundos desafios éticos

Redação do Diário da Saúde
Blastoides' humanos oferecem esperança médica, mas também profundos desafios éticos
Bioeticistas e biólogos discutem os desafios éticos na pesquisa de blastoides humanos.
[Imagem: Kanon Tanaka]

Blastoides

Os blastoides, uma espécie de embrião inicial derivado de células-tronco - em vez do esperma do pai ou do óvulo da mãe -, é um instrumento valioso para estudar problemas precoces de gestação, que causam defeitos congênitos, e outros tópicos relacionados com o desenvolvimento humano.

Seu uso evita potencialmente os desafios da escassez e os possíveis problemas éticos de usar embriões reais para o mesmo tipo de pesquisa.

Mas um grupo de biólogos e especialistas em ética está alertando que os blastoides vêm acompanhados de seu próprio conjunto de considerações éticas. Embora a pesquisa de blastoides de mamíferos tenha avançado rapidamente nos últimos anos, mais frequentemente usando blastoides de camundongos, a partir de 2021 tornou-se possível usar blastoides humanos em pesquisas - e o progresso na área não se fez acompanhar das necessárias discussões éticas.

Os blastoides, também chamados de embrioides, assemelham-se aos estágios iniciais do embrião, o que inclui as células, a estrutura (morfologia) e a genética - esse embrião inicial é chamado de blastocisto. Os blastoides imitam o desenvolvimento embrionário inicial até - e potencialmente logo após - o estágio de blastocisto, cinco a seis dias após a primeira divisão celular.

Enigma ético

Um grande avanço recente das pesquisas foi a capacidade de cultivar estruturas semelhantes a blastocistos a partir de células-tronco pluripotentes (células capazes de se transformar em muitos tipos diferentes de células ou formas de tecidos).

"Mas, após a implantação no útero, os blastocistos acabam se transformando em fetos, os blastoides não, e assim são considerados um modelo de embrião, em vez de um embrião real," detalha o professor Tsutomu Sawai, da Universidade de Hiroshima (Japão). "Ou, mais precisamente, não há até agora nenhuma evidência de que eles possam se desenvolver em um feto, o que é o cerne do enigma ético."

A equipe não se propôs a argumentar a favor ou contra diferentes atitudes regulatórias ou éticas em relação à pesquisa de blastoides humanos: O que eles argumentam é que é necessário explorar quais problemas podem surgir em torno da regulamentação dessas pesquisas, para embasar conversas políticas, científicas e sociais sobre essas pesquisas.

Potencial para tornar-se

O que torna a questão eticamente preocupante é que, assim como as pessoas têm visões diferentes sobre o status moral dos embriões, especialmente no contexto das pesquisas científicas, é necessário considerar que as pessoas também tenham visões diferentes sobre o status moral dos blastoides. Alguns acham que a questão-chave é se embriões ou blastoides têm propriedades como senciência - a capacidade de sentir dor ou experimentar a consciência -, enquanto outros acham que a questão-chave é se eles têm potencial para qualquer uma dessas coisas.

Alguns cientistas têm argumentado que blastoides e blastocistos não são funcionalmente equivalentes e, portanto, não exigiriam o mesmo nível de supervisão e regulação que os embriões humanos.

Uma posição oposta, no entanto, argumenta que os blastoides se tornarão funcionalmente mais próximos dos blastocistos mais cedo ou mais tarde, quando se tornarem morfológica ou geneticamente semelhantes aos blastocistos normais. Como resultado, há uma sensação de que blastoides e blastocistos devam ser tratados da mesma forma pelos legisladores, uma vez que podem se tornar funcionalmente equivalentes no futuro.

"A viabilidade de técnicas de laboratório que imitam perfeitamente o útero, no entanto, permanece especulativa, e os formuladores de políticas, pesquisadores e a sociedade em geral precisam avaliar o que fazer agora, e não esperar até que esses avanços tecnológicos ocorram," acrescentou o professor Sawai.

Checagem com artigo científico:

Artigo: The regulation of human blastoid research
Autores: Tsutomu Sawai, Kyoko Akatsuka, Go Okui, Tomohiro Minakawa
Publicação: Embo Reports
Vol.: e56045
DOI: 10.15252/embr.202256045
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