Coração nas alturas
Cientistas do Instituto de Medicina Aeroespacial da Alemanha descobriram que a ingestão de álcool seguida de uma soneca durante um voo oferece significativos riscos à saúde cardiovascular dos passageiros.
O problema está na combinação do álcool com a pressão na cabine dos aviões em altitude de cruzeiro, que podem ameaçar a saúde cardíaca dos passageiros que dormem, especialmente em voos de longa duração.
Os dois elementos juntos reduzem a quantidade de oxigênio no sangue (SpO2) e aumenta a frequência cardíaca por um período prolongado, mesmo em pessoas jovens e saudáveis.
E quanto maior for o consumo de álcool, maiores poderão ser esses efeitos, especialmente entre os passageiros mais velhos e aqueles com condições médicas pré-existentes.
Os efeitos detectados foram tão fortes que os cientistas sugerem a restrição do acesso ao álcool a bordo dos aviões em viagens de longo curso.
Efeitos do álcool e sono durante o voo
Já se sabia que que permanecer em um ambiente hipobárico diminui a saturação de oxigênio e aumenta a frequência cardíaca. De fato, passageiros de avião com doenças cardiopulmonares apresentam um risco aumentado de agravamento dos seus sintomas durante as viagens de longa duração devido à diminuição da pressão na cabine, um efeito que é ainda maior durante o sono. O álcool, que é frequentemente consumido a bordo, tem efeitos semelhantes, mas as alterações induzidas pela hipóxia hipobárica são geralmente mais fortes.
A novidade agora é este foi o primeiro estudo a investigar o impacto combinado da hipóxia hipobárica e do álcool durante o sono em condições simuladas equivalentes às que se submetem os passageiros de avião. E se demonstrou que os efeitos na saturação de oxigênio e na frequência cardíaca se somaram, afetando inclusive pessoas jovens e saudáveis, que apresentaram dessaturações prolongadas e clinicamente relevantes, disse a equipe.
Os participantes beberam o equivalente a 2 latas de cerveja (5%) ou 2 copos de vinho (175 ml, 12%) em vodca pura às 23h15, e seu ciclo de sono, SpO2 e frequência cardíaca foram monitorados continuamente até as 4h da manhã.
Os resultados mostraram que a combinação de álcool e pressão na cabine em altitude de cruzeiro provocou uma queda na SpO2 para uma média de pouco mais de 85%, e um aumento compensatório na frequência cardíaca para uma média de quase 88 batimentos/minuto durante o sono. Isto se compara a pouco mais de 88% de SpO2 e pouco menos de 73 batimentos/minuto entre aqueles que dormiram mas não beberam álcool.
Os níveis de oxigênio abaixo da norma clínica saudável (90%) duraram 201 minutos com a combinação de álcool mais pressão, em comparação com um período de 173 minutos sem álcool e 0 minuto com e sem álcool em condições de laboratório do sono no solo.
"Os profissionais, passageiros e tripulantes devem ser informados sobre os riscos potenciais, e pode ser benéfico considerar a alteração dos regulamentos para restringir o acesso a bebidas alcoólicas a bordo dos aviões," concluiu a equipe.
Deficiências do estudo
Este estudo científico serve como um alerta inicial, mas ele está longe de dar uma resposta definitiva à questão.
Os próprios pesquisadores reconhecem as limitações da sua pesquisa, incluindo o pequeno número de voluntários, o fato de que todos os participantes eram jovens e saudáveis e que todos dormiram em posição supina, um luxo normalmente concedido apenas àqueles que voam na primeira classe. Assim, os resultados podem não se aplicar igualmente à maior parte dos passageiros de avião que voam na classe econômica.
"Este estudo experimental foi realizado em um ambiente simulado, que difere significativamente das viagens normais, onde as expectativas e condições variam. O estudo não controla a adaptação à altitude, uma vez que as pessoas que vivem ou nasceram em grandes altitudes podem ter respostas diferentes às viagens aéreas. Além disso, a dessaturação abrupta de oxigênio relatada geralmente não é evidente nas cabines das aeronaves, de acordo com a literatura existente. Estudos anteriores demonstraram que voar por períodos curtos ou mesmo até 10 horas não tem efeitos significativos para a saúde em termos de saturação de oxigênio," acrescentou o professor Esteban Ortiz Prado, que não participou do estudo.
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