Mal desnecessário
Para a maioria dos pesquisadores, testes em animais é um mal necessário.
Uma opinião não compartilhada por Ludovic Wiszniewski.
O cientista demonstrou que existem alternativas.
Ludovic Wiszniewski é o primeiro pesquisador a ter conseguido manter o epitélio respiratório humano vivo, in vitro, por mais de um ano.
Para difundir e comercializar a tecnologia, ele criou uma assim chamada empresa emergente de biotecnologia, a Epithelix.
Sua inovação rendeu vários prêmios internacionais. Aqui ele fala sobre sua inovação, em uma entrevista ao Swissinfo.
Em 2010, o número de animais submetidos a experiências aumentou quase 8% na Suíça, em relação a 2009. Um desenvolvimento um tanto surpreendente, não?
Ludovic Wiszniewski: Não, não realmente. Recentemente, surgiram novas empresas que praticam a experimentação animal.
Por seu lado, as grandes empresas farmacêuticas também intensificaram suas pesquisas, já que muitas patentes depositadas há mais de 20 anos estão se expirando.
Adicionado a isso, também tem o aumento do número de experiências transgênicas realizadas em animais nos laboratórios das universidades.
A tendência observada nos últimos vinte anos estava, no entanto, em baixa. Entre 1990 e 2010, o número de cobaias diminuiu quase 40%. Quais são as razões para esta diminuição?
LW: Não é uma diminuição real em si.
Há 20 anos atrás, os estudos não eram sistematicamente catalogados e, portanto, os dados não são tão precisos.
E, além disso, várias empresas começaram a praticar suas experiências no exterior.
Isto é particularmente o caso da China, onde a legislação pertinente é menos severa.
Também devemos reconhecer que a lei teve o efeito de reduzir as experiências com animais, particularmente através da proibição da utilização de seres vivos na área dos cosméticos, por exemplo.
E, finalmente, teve o surgimento das novas tecnologias de cultura celular.
Em um nível puramente técnico, o animal representa mesmo um bom modelo biológico para o homem?
LW: Não. Vários medicamentos passaram nos testes feitos com animais, mas tiveram um efeito catastrófico sobre os seres humanos.
Refiro-me especificamente a um produto desenvolvido para o tratamento da leucemia infantil: as crianças submetidas a este tratamento morriam mais cedo.
Ou a talidomida, um sedativo anti-náusea para mulheres grávidas e retirado de venda porque provocava malformações no feto.
Também posso citar o Tamoxifeno, um contraceptivo eficaz com ratos, mas que teve um efeito contrário com as mulheres.
E, finalmente, lembre-se que o resultado de um teste realizado com animais também pode depender do pesquisador.
Em outras palavras, se o animal é capaz de perceber o estado de espírito do homem (nível de estresse), ele pode reagir de maneira diferente de um pesquisador para outro.
Mas a história da medicina não é feita só de exemplos negativos...
LW: Sim, em algumas áreas, as experiências com animais têm sido úteis.
Na cirurgia, por exemplo, onde os médicos podem operar em cobaias antes de intervir em um ser humano.
Ou ainda, com a insulina, descoberta em cães e inicialmente isolada em porcos.
Deve-se enfatizar, no entanto, que o conhecimento e os instrumentos atuais eliminam a necessidade de experimentação com seres vivos.
Então, por que continuamos a usar animais?
LW: Há várias razões para isso.
Primeiro, a lei exige. Antes de se comercializar um produto farmacêutico ou químico, deve-se avaliar o seu grau de toxicidade. No entanto, como eu disse, as reações observadas em animais podem ser diferentes das do homem.
E depois há também o peso das publicações científicas. Muitas revistas exigem que os testes em animais sejam realizados. E para o cientista, o sucesso do seu trabalho está diretamente relacionado com o número de publicações...
É um modelo antigo que persiste especialmente com as experiências genéticas.
Quais são as alternativas às experiências com animais?
LW: Primeiro, tem as culturas in vitro de células humanas.
Podemos cultivar células ou induzir uma diferenciação, colocando-as em condições semelhantes às presentes no corpo humano. Assim, somos capazes de desenvolver mini pulmões.
E depois, há um modelo ex vivo: em vez de sacrificar dez animais para uma experiência, usa-se apenas um, o órgão escolhido é cortado em dez partes e aí se passa ao teste. Por fim, há também modelos de computador (in silico) que permitem previsões sobre toxicidade.
Será que um dia um órgão humano inteiro poderá ser criado... num tubo de ensaio?
LW: O maior desafio está relacionado com a duração de vida das células. Fora do corpo humano, é possível mantê-las vivas entre 3 a 4 semanas, ou seja, um período insuficiente para reconstruir um órgão.
Nós mesmos conseguimos mantê-las vivas por um ano. Se o desenvolvimento de materiais de suporte for confirmado, estou convencido de que poderemos recriar órgãos completos.
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