Pior?
A falta de informação sobre os efeitos de todos os ingredientes dos pesticidas sobre a saúde humana faz com que eles pareçam ser mais seguros do que são - potencialmente causando ainda mais danos às pessoas e ao meio ambiente do que se supunha.
Isto exigirá novas regulamentações para proteger as pessoas e o meio ambiente de ingredientes tóxicos presentes nos pesticidas, mas que atualmente não estão sujeitos a avaliações de segurança.
Esta é a conclusão da primeira revisão abrangente de lacunas nas avaliações de risco dos chamados "adjuvantes", ingredientes adicionados às formulações dos pesticidas e herbicidas para melhorar a função ou a aplicação do ingrediente ativo.
Hoje, as avaliações das autoridades de saúde testam e monitoram apenas o ingrediente ativo de cada produto.
Ignorar os perigos potenciais dos outros ingredientes leva a imprecisões no perfil de segurança dos pesticidas, bem como a confusões na literatura científica sobre os efeitos desses pesticidas, afirmam Robin Mesnage e Michael Antoniou, do King's College de Londres (Reino Unido), em um artigo publicado na revista científica Frontiers in Public Health.
"A exposição a níveis ambientais de algumas dessas misturas adjuvantes pode afetar organismos não-alvo e pode até mesmo causar doenças humanas crônicas. Apesar disso, os adjuvantes não estão atualmente sujeitos a uma dose de ingestão diária aceitável e não estão incluídos na avaliação do risco à saúde da exposição por ingestão de resíduos de pesticidas," disse o Dr. Robin Mesnage.
Adjuvantes de pesticidas
Os pesticidas são uma mistura de diversos produtos químicos, constituindo-se de um ingrediente ativo - a substância que mata ou repele uma praga - juntamente com uma variedade de outros ingredientes que ajudam na aplicação ou na função do ingrediente ativo. Estes outros ingredientes são conhecidos como adjuvantes e incluem corantes, agentes antiespuma, surfactantes e outros.
Os testes regulamentares para verificação da segurança dos pesticidas atualmente são feitos apenas no ingrediente ativo, o que pressupõe que os outros ingredientes não tenham efeitos. Isso significa que a toxicidade total de uma formulação de pesticida - seja ele usado na agricultura ou nos jardins domésticos - não é mostrada.
Com base em uma revisão da literatura científica, os autores descrevem como vários produtos químicos não regulamentados presentes em formulações comerciais de pesticidas podem ser a "arma fumegando", explicando porque vários estudos não conseguem demonstrar que a exposição a pesticidas gere os problemas de saúde alegados - porque os adjuvantes, que muitas vezes podem ser a causa dos problemas, não entram nos estudos.
Os pesquisadores se concentraram em herbicidas à base de glifosato, o pesticida mais utilizado em todo o mundo. Eles apontam que este matador de ervas daninhas tem tantas formulações adjuvantes diferentes que um teste de segurança de um produto comercial não prova a segurança de outro.
"Estudos que compararam a toxicidade das formulações comerciais dos matadores de erva daninhas com a toxicidade do glifosato sozinho mostraram que várias formulações são até 1.000 vezes mais tóxicas do que o glifosato em células humanas. Acreditamos que os adjuvantes são responsáveis por esse efeito tóxico adicional," disse o Dr. Mesnage.
Pesticidas e abelhas
Os pesquisadores também destacam os inseticidas neonicotinoides - fortemente suspeitos de estarem envolvidos no colapso das colônias de abelhas - como outro exemplo de toxicidade adjuvante que afeta organismos não-alvo.
Um adjuvante utilizado nesses inseticidas para aumentar a penetração do ingrediente ativo causa efeitos tóxicos variáveis nas abelhas, segundo os estudos analisados. Além disso, os resíduos da toxina também foram encontrados no mel, pólen e cera produzidos por abelhas contaminadas.
Estudos como este parecem estar dando resultados: A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos já está reavaliando a validade da avaliação de risco dos pesticidas. Também no Brasil a Anvisa vai atualizar as regras para os agrotóxicos. Os autores esperam que reavaliações desse tipo possam se estender a formulações comerciais inteiras de pesticidas e seus outros ingredientes.
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