Microbiota intestinal
Pesquisadores brasileiros descobriram que a vitamina D presente no organismo influencia o perfil da microbiota intestinal - sobretudo as bactérias comensais, ou bactérias benéficas que vivem em nossos intestinos.
Essa influenciação resulta em que a vitamina D controla o risco de desenvolver doenças cardiovasculares e metabólicas.
Pesquisas recentes demonstraram que o microbioma intestinal regula nossos processos cerebrais. Além disso, os intestinos têm sua própria rede de neurônios, o que ajuda a explicar como eles formam um escudo de proteção contra Parkinson.
"Já se sabia que a vitamina D é importante para a homeostase do sistema imune. O que nosso estudo acrescenta é que essa relação ocorre, pelo menos em parte, pelas interações com a microbiota intestinal," afirmou Sandra Roberta Vivolo, professora da USP e coordenadora da pesquisa.
Vitamina D e bioma intestinal
As conclusões estão baseadas na análise dos dados de 150 voluntários entre 20 e 30 anos (91% do sexo feminino).
"Essa associação pode parecer óbvia a princípio, mas não é. A literatura científica é controversa sobre o assunto, pois apenas 20% da vitamina D existente no organismo humano é proveniente da dieta. A quantidade ideal recomendada só é alcançada por meio da exposição ao Sol - algo cada vez mais raro no meio urbano - ou pela ingestão de suplementos", detalhou Sandra.
Após dosar a concentração do nutriente no sangue dos participantes e avaliar o padrão alimentar, o grupo concluiu que de fato havia uma associação entre maior ingestão de alimentos ricos em vitamina D e níveis circulantes mais elevados. As principais fontes alimentares na amostra foram: ovos, leite e seus derivados. Os voluntários com maior nível de vitamina D circulante apresentavam uma quantidade menor de lipopolissacarídeos (LPS) no sangue.
Como explicou a pesquisadora, as moléculas de LPS estão presentes na superfície de algumas bactérias do tipo Gram-negativas do trato intestinal. Vale ressaltar que grande parte das bactérias Gram-negativas são patogênicas, enquanto a maioria das Gram-positivas não o são - algumas delas são até mesmo consideradas benéficas para a saúde humana.
"Esse dado nos possibilita levantar a hipótese de que os indivíduos mais suficientes de vitamina D tenham uma composição mais saudável da microbiota intestinal - o que teria, por sua vez, um impacto benéfico no risco cardiometabólico", avaliou.
Lipopolissacarídeos
A molécula de LPS é considerada imunogênica, ou seja, ela é capaz de induzir uma resposta inflamatória no organismo. Níveis sanguíneos mais altos dessa substância, portanto, favorecem o desenvolvimento de um estado de inflamação subclínica (crônica, de baixo grau e sistêmica), fator que tem sido associado em diversos estudos ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas, entre elas o diabetes.
"A composição da microbiota intestinal tem sido associada ao desenvolvimento de doenças - não apenas as infecciosas, como também aquelas que têm relação com uma inflamação de pequeno grau. É possível que a vitamina D tenha alguma participação nesse processo, mas ainda é muito cedo para apontar uma relação de causa e consequência. Para isso, seria necessário fazer um estudo de intervenção, ou seja, comparar grupos que ingerem diferentes quantidades do nutriente por um longo período e observar o impacto na microbiota", disse a pesquisadora.
O estudo brasileiro foi publicado na revista Metabolism.
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