07/04/2022

A que velocidade o vírus da COVID-19 sofre mutações?

Redação do Diário da Saúde
A que velocidade o vírus da COVID-19 sofre mutações?
A velocidade de mutação do vírus da covid-19 pode ser menor que a do vírus da gripe.
[Imagem: Tumisu/Pixabay]

Mutações, seleção e evolução

Cada vez que um vírus se multiplica no interior de uma célula infectada, algumas letras do seu código genético podem ser erroneamente substituídas, dando origem a mutações - sim, mutações podem ser entendidas como "erros".

Algumas mutações alteram caraterísticas importantes do vírus, como a sua transmissibilidade e severidade dos males que ele causa, podendo dar origem a versões (cepas ou estirpes) mais ou menos bem-sucedidas em sua própria replicação.

O processo de mutação que leva a estirpes que prosperam mais facilmente no seu ambiente chama-se evolução.

Para compreender como o vírus da covid-19 evolui e origina novas variantes, os pesquisadores precisam, primeiro, desvendar como e a que velocidade surgem as mutações no seu código genético quando ele se reproduz nas células do corpo do hospedeiro que infecta.

Isto agora foi alcançado por uma equipe do Instituto Gulbenkian de Ciência e do INSA, ambos em Portugal. Os estudos anteriores basearam-se em estimativas de outros coronavírus e em estudos de pequena escala, com pouco poder para detectar o largo espectro de mutações que podem surgir.

Evolução acelerada

Massimo Amicone e seus colegas infectaram células isoladas de rins de macacos com duas linhagens do SARS-CoV-2: uma com a versão original da proteína de pico e outra com uma versão mutada, que é prevalente em nível mundial. Depois de deixarem o vírus multiplicar-se, eles sequenciaram seu genoma e procuraram por novas alterações e por qualquer evidência de evolução.

A equipe confirmou que o SARS-CoV-2 tem uma capacidade notável para se adaptar a novos ambientes, particularmente através da evolução da proteína de pico. O gene que codifica esta proteína acumulou cinco vezes mais alterações que outras regiões, o que é resultado da seleção de mutações benéficas para o vírus - e ruins para o ser humano.

Genes que codificam componentes da nucleocápside, membrana e envelope do vírus, também mostraram sinais de adaptação. Notavelmente, várias das mutações identificadas já foram observadas em populações naturais do vírus, particularmente nas variantes Beta, Gama e Ômicron.

Menos mutagênico que vírus da gripe

Como queriam quantificar a taxa de mutação espontânea do SARS-CoV-2, os pesquisadores tiveram que distinguir entre alvos sobre seleção e evolução e alvos que não alteram a capacidade de sobrevivência do vírus.

Feito isto, eles chegaram a uma estimativa mais realística: A cada infeção, a probabilidade de qualquer letra do código genético do SARS-CoV-2 ser erroneamente substituída é de 1,3 em um milhão, menor do que no vírus da gripe.

"Dado que o código genético do SARS-CoV-2 é composto por aproximadamente 30.000 letras, isto significa que, cada vez que o vírus é copiado, 1 em 10 terá uma nova mutação," explicou a professora Isabel Gordo, coordenadora da equipe.

Os pesquisadores concluíram ainda que a mutação mais comum foi a substituição da letra C por um T, em ambas as estirpes usadas para infectar as células. As taxas de mutação das diferentes cepas também foram semelhantes, o que sugere que a sua diferença inicial não influenciou o percurso mutacional do vírus.

Apesar das semelhanças, a estirpe que transportava a forma mutada da proteína de pico acumulou menos mutações benéficas para o vírus que a original, o que corrobora a hipótese de que as estirpes mais bem-sucedidas se adaptam mais lentamente.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Mutation rate of SARS-CoV-2 and emergence of mutators during experimental evolution
Autores: Massimo Amicone, Vítor Borges, Maria João Alves, Joana Isidro, Líbia Zé-Zé, Sílvia Duarte, Luís Vieira, Raquel Guiomar, João Paulo Gomes, Isabel Gordo
Publicação: Evolution, Medicine, and Public Health
Vol.: eoac010
DOI: 10.1093/emph/eoac010
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