Comunicação mental
Imagine um mundo em que seja possível comunicar-se com seus amigos pela internet e realizar outras tarefas online usando somente seus pensamentos, através de um chip implantado no seu cérebro.
A telepatia artificial, ou "teclepatia", é a comunicação mente a mente usando a tecnologia como meio de transmissão.
Ela tem-se tornado um tema de crescente interesse, sobretudo agora que o ser humano conta com tecnologias que nos permitem ler o pensamento com maior ou menor precisão.
Embora ainda não exista sistema algum de comunicação telepática que funcione, há cientistas que defendem a projeção de que, no futuro, este tipo de conexão será tão comum como a que realizamos hoje em dia por meio de celulares.
Leitura de pensamentos
Atualmente existem duas formas de fazer isso: colocando uma série de sensores na parte externa da cabeça ou abrindo o crânio para implantar um chip no córtex cerebral.
Embora seja mais invasivo, o segundo é o que vem dando aos cientistas a possibilidade de obter resultados com maior precisão.
Kevin Warwick, professor de cibernética da Universidade de Reading, na Grã-Bretanha, foi uma das primeiras pessoas a ter um chip implantado em seu cérebro, ainda em 2002.
Em 2004 ele conseguiu estabelecer uma conexão telepática com sua mulher, Irina, que estava usando eletrodos externos.
Com os respectivos sensores acionados, os dois sistemas nervosos foram ligados à internet e através deste meio Irina moveu sua mão três vezes e os movimentos foram percebidos por Kevin.
"O que fizemos até agora é enviar sinais de sistema nervoso para sistema nervoso; o próximo será de cérebro a cérebro. Já temos agora a tecnologia para fazer isso, e tentar o primeiro experimento, que provavelmente será uma forma rudimentar e telegráfica de comunicação", conta o cientista.
Telepatia artificial
Nem todos os especialistas da área são tão otimistas como Warwick. A telepatia artificial, na verdade, enfrenta uma série de grandes obstáculos.
"Uma dificuldade muito grande é conseguir a resolução necessária para identificar o que a pessoa está pensando", diz Javier Mínguez, do Departamento de Robótica da Universidade de Zaragoza, na Espanha, e chefe de tecnologia da empresa BritBrain, dedicada ao desenvolvimento de interfaces humanos-computadores.
Os seres humanos utilizam apenas 1.500 palavras para manter uma comunicação razoavelmente avançada e por isso os sistemas do tipo "talvez não abordariam todo o vocabulário humano, mas sim um subconjunto dele, para saber o que a pessoa quer", explica Mínguez.
O segundo passo, na visão do cientista, seria como transmitir essa informação entre humanos e introduzi-las no cérebro. Até o momento esta etapa se encontra em um estado muito primitivo, com a transmissão mais de sensações do que de ideias.
Contribuição brasileira
Em 2011, a revista especializada Nature divulgou os resultados de uma equipe liderada pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis, baseado na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, que conseguiu realizar a primeira interação bidirecional entre o cérebro de um primata e um corpo virtual.
Os cientistas inseriram eletrodos no córtex cerebral e no sistema nervoso-sensorial de macacos, com os quais os primatas puderam perceber sensações táticas e distinguir texturas em objetos virtuais.
Recentemente, pesquisadores da USP em São Carlos anunciaram o desenvolvimento de um chip que poderá ser usado para controlar próteses artificiais pelo pensamento ou exoesqueletos, equipamentos robóticos para auxílio à mobilidade.
Vai um chip no cérebro?
Superados todos estes desafios, restaria ainda enfrentar todos os dilemas éticos envolvidos em pesquisas com comunicação telepática.
Em primeiro lugar, são poucas as pessoas dispostas a terem um chip instalado em seu cérebro. O dispositivo pode gerar problemas de rejeição.
Além disso, se os dados forem transmitidos através de um meio como a internet, os pensamentos das pessoas poderiam ser facilmente interceptados.
E no pior dos casos, alguém poderia introduzir pensamentos em nosso cérebro.
Mas na visão dos especialistas ainda temos muito pela frente antes dessas situações se tornarem realidade. Enquanto isso, pessoas paralisadas, mesmo estando em estado vegetativo, poderão usufruir das descobertas feitas ao longo do caminho.
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