Má ciência
Talvez você não saiba, mas muitos cientistas estão trabalhando no desenvolvimento do que eles chamam de "tecnologias de aprimoramento moral" - técnicas que poderiam "melhorar" o comportamento humano.
Felizmente, outros pesquisadores têm visto e apontado os erros nessas abordagens e, com base em uma avaliação das pesquisas existentes sobre essas "terapias", afirmam que elas não são boa ciência - são o que alguns chamam de cinismo na ciência.
"Tecnologias de aprimoramento moral não são nem viáveis e nem sábias," escreveram os professores Veljko Dubljevic e Eric Racine, da Universidade Estadual da Carolina do Norte (EUA) e do Instituto de Pesquisas Clínicas de Montreal (Canadá).
Tecnologias de aprimoramento moral
A ideia por trás das tecnologias de aprimoramento moral é usar técnicas biomédicas para tornar as pessoas mais moralmente aceitas pelas normas sociais. Por exemplo, usar drogas ou técnicas cirúrgicas para tratar criminosos que tenham apresentado "defeitos morais".
"Há maneiras que as pessoas já exploraram para manipular a moralidade, mas a questão que abordamos neste artigo é se manipular a moralidade realmente melhora a moralidade," ressalvou Dubljevic.
Especificamente, eles analisaram quatro tipos de intervenções farmacológicas e três técnicas de neuroestimulação, e os argumentos que os cientistas do aprimoramento moral utilizam:
"O que descobrimos é que, sim, muitas dessas técnicas têm alguns efeitos. Mas estas técnicas são todas instrumentos contundentes, ao invés de tecnologias finamente sintonizadas que poderiam ser úteis. Em suma, o aprimoramento moral não é viável - e mesmo se fosse, a história nos mostra que usar a ciência para tentar manipular a moralidade não é sábio," diz Dubljevic, lembrando da eugenia e da defesa científica das raças puras.
Tiro pela culatra
Os pesquisadores encontraram vários problemas para cada uma das abordagens sugeridas pelos defensores do "aprimoramento moral científico".
"A oxitocina promove a confiança, mas apenas no grupo," observa Dubljevic. "E ela pode diminuir a cooperação com membros de fora da sociedade, como as minorias raciais, e promover seletivamente o etnocentrismo, o favoritismo e o paroquialismo".
As anfetaminas, por sua vez, aumentam a motivação para todos os tipos de comportamento, e não apenas para o comportamento moral. Além disso, existem riscos significativos de dependência associada às anfetaminas, que já são a segunda droga mais utilizada no mundo.
Os beta-bloqueadores não apenas diminuíram o racismo nos experimentos, mas também embotaram toda a resposta emocional, o que coloca em dúvida a sua utilidade. Os ISRS, por sua vez, reduzem a agressividade, mas têm sérios efeitos colaterais, incluindo um maior risco de suicídio.
Por fim, os pesquisadores não encontraram evidências de que a estimulação cerebral profunda tivesse qualquer efeito sobre o comportamento moral.
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