Esforço insuficiente
A redução do sódio nos alimentos industrializados no Brasil deverá prevenir mais de 180 mil novos diagnósticos de doenças cardiovasculares associadas à hipertensão, além de, nos próximos 20 anos, evitar 2,6 mil mortes decorrentes dessas doenças e 12 mil mortes por outras causas também relacionadas ao excesso sódio.
A conclusão é de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Liverpool (Reino Unido).
"O estudo teve por objetivo estimar o impacto das atuais metas voluntárias de redução do sódio no Brasil em um período de 20 anos e, a partir disso, trazer evidências para a implementação de políticas mais efetivas para a prevenção de mortes e de doenças associadas ao consumo excessivo de sódio pelos brasileiros," explicou o pesquisador Eduardo Nilson.
No Brasil, desde 2011, o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia) vêm estabelecendo metas para reduzir gradualmente o teor máximo de sódio em alimentos prioritários.
De 2011 até 2018, os pesquisadores identificaram a redução de apenas 0,1 grama por dia (g/dia) no consumo de sódio dos brasileiros, passando de 3,7 g/dia para 3,6 g/dia, o que mostra que a campanha parece estar trazendo muito mais lucro ao marketing das empresas do que à saúde dos consumidores.
Baseando-se nessa redução, foram estimadas as mortes e doenças cardiovasculares que serão evitadas no prazo de 20 anos. Apesar dos ganhos, a Organização Mundial da Saúde recomenda que o consumo máximo de sódio seja de apenas 2 g/dia.
Os pesquisadores avaliam que, se as metas de redução do consumo de sódio no país se aproximassem dessa recomendação e atingissem todo o mercado de alimentos, mais mortes poderiam ser evitadas. As metas atingem atualmente apenas as empresas associadas à Abia, que representa aproximadamente 70% da indústria brasileira de alimentos.
Excesso de sódio
O pesquisador alerta que é necessário atuar em várias frentes para avançar mais na redução no consumo de sódio considerando todas as suas fontes na dieta, como o sal de cozinha e temperos à base de sal. É preciso ainda, segundo ele, levar em consideração os alimentos produzidos e consumidos fora de casa e reduzir ainda mais os teores de sódio nos alimentos processados e ultraprocessados.
Para isso, é fundamental o fortalecimento da implementação das orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira, que incluem fazer da base da dieta alimentos frescos e minimamente processados, evitar o consumo de ultraprocessados e usar ingredientes culinários em pequenas quantidades nas refeições.
E, como a "ação voluntária" das empresas não está dando os resultados esperados, pode ser necessário introduzir algum nível de obrigatoriedade e monitoramento.
"Especificamente no tocante aos alimentos processados e ultraprocessados, é necessário aumentar o impacto das metas atuais, reduzindo ainda mais o limite máximo de sódio nos alimentos, incluindo mais categorias de alimentos nas metas de redução e ampliando o alcance [das metas a] todos os produtos no mercado para além das indústrias que fazem parte dos acordos, e fortalecendo o monitoramento e a possível aplicação de sanções ao não-cumprimento das metas," concluiu Eduardo.
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