28/03/2024

Conheça o seu ageótipo, que determina como será seu envelhecimento

Com informações da BBC
Qual é o meu ageótipo?
A lição a levar para casa é: Também no envelhecimento, podemos traçar nosso próprio caminho.
[Imagem: Julita/Pixabay]

Ageótipo

Todos envelhecemos, mas o processo de envelhecimento não é igual para todos. É por isso que, para alguns de nós, o tempo parece passar mais lentamente, enquanto para outros ele parece ser mais cruel.

Em outras palavras, mesmo tendo a mesma idade, podemos apresentar diferentes sinais de envelhecimento.

Os cientistas acreditam que isso se deva à existência de diferentes padrões biológicos que determinam o ritmo em que cada um de nós vai ficando mais velho. Estes padrões são chamados de ageótipos, um termo derivado do inglês age, que significa idade ou envelhecer.

Como envelhecemos

Em 2020, a equipe do professor Michael Snyder, da Universidade de Stanford (EUA) estudou um grupo de 43 homens e mulheres saudáveis, com idades de 34 a 68 anos, avaliando sua biologia molecular pelo menos cinco vezes ao longo de dois anos - os exames monitoraram os níveis de certos bactérias saudáveis e moléculas biológicas, como proteínas, metabólitos e lipídios.

O objetivo era descobrir o que realmente acontece com o corpo humano quando envelhecemos.

Os dados mostraram que as pessoas seguem certos caminhos biológicos que determinam quais partes do corpo envelhecem mais cedo ou mais tarde. Mas também mostraram que cada um envelhece a seu modo, embora, estatisticamente, haja alguns padrões. Foi aí que surgiram os ageótipos.

"Eles são padrões de envelhecimento," explicou Snyder. "Todos nós envelhecemos de formas diferentes. Em algumas pessoas, o sistema imunológico envelhece mais rápido, em outras os rins, ou o sistema metabólico, e assim por diante. Em cada caso, são diferentes órgãos ou conjuntos de sistemas de órgãos. Da mesma forma que quando um automóvel envelhece e as diferentes peças se desgastam em ritmos distintos: o motor, a bateria ou o chassi. O mesmo acontece com nossos corpos."

Qual é o meu ageótipo?
Proposta original de quatro ageótipos, que hoje já está estendida.
[Imagem: Sara Ahadi et al. - 10.1038/s41591-019-0719-5]

Quais são os ageótipos?

A pesquisa identificou quatro ageótipos principais, embora estudos posteriores, com maior número de voluntários, já indiquem a existência de outros tipos (veja abaixo).

1. Metabólico

Ocorre quando o metabolismo - encarregado de converter os alimentos em energia e eliminar as substâncias tóxicas, entre outras coisas - envelhece em velocidade mais alta do que outras funções do corpo. Quando o metabolismo é prejudicado, surgem problemas como a obesidade, doenças cardíacas e outros transtornos, como diabetes.

2. Imunológico

O sistema imunológico das pessoas apresenta sinais de envelhecimento mais profundos. Se o sistema imunológico começar a falhar, o corpo perde a capacidade de combater germes invasores, como infecções e outras doenças. Com isso, podem surgir níveis mais altos de inflamações ou doenças do tipo imunológico.

3. Hepático

Este ageótipo está relacionado com o envelhecimento do fígado, encarregado principalmente de processar os nutrientes e filtrar toxinas prejudiciais para o corpo. Se o fígado não funcionar de maneira correta, podem surgir doenças como a cirrose.

4. Nefrótico

Ocorre quando a função renal apresenta sintomas de envelhecimento. Os rins ajudam a filtrar e equilibrar os líquidos do corpo, descartando-os através da urina. Eles também regulam a pressão arterial e estimulam a medula óssea para que produza glóbulos vermelhos, entre outras coisas. Se os rins mostrarem sinais de envelhecimento, eles podem deixar de filtrar líquidos prejudiciais, causando alterações da pressão arterial ou desequilíbrios dos minerais essenciais.

Qual é o meu ageótipo?
Versão estendida dos ageótipos, proposta pela equipe do professor Brian Kennedy.
[Imagem: Chao Nie et al. - 10.1016/j.celrep.2022.110459]

Novos ageótipos

O trabalho da equipe de Snyder continuou, juntamente com vários outros pesquisadores que se interessaram pelo tema. O resultado é que hoje já se sabe que existem outros genótipos mais específicos.

Por exemplo, já estão bem documentados o ageótipo cardiovascular, diretamente relacionado ao coração biologicamente mais envelhecido que os demais órgãos, e o ageótipo do estresse oxidativo, que acontece quando o nosso corpo produz compostos que não são úteis para a vida e, consequentemente, alteram a funcionalidade das membranas celulares.

Em fevereiro do ano passado, a equipe da professora Kalliopi Gkouskou, da Universidade de Atenas (Grécia), mostrou que existem também padrões de envelhecimento relacionados à "disfunção do cérebro" e do sistema nervoso. A equipe do professor Brian Kennedy, da Universidade Nacional de Cingapura, concorda: "O nosso estudo demonstra evidências de que pode haver diversos 'relógios' dentro do todo o sistema: Impulsionadores sistêmicos do envelhecimento sobrepostos com contrapartes específicas de órgãos e tecidos," indica sua pesquisa publicada em 2022, que analisou mais de 4 mil voluntários.

Assim, a lista de ageótipos de Kennedy é maior, sugerindo cinco outros: o cardiovascular, a aptidão física, os hormônios sexuais, a pele e o microbioma intestinal.

Outro aspecto importante é que os ageótipos não são excludentes entre si, ou seja, a mesma pessoa pode ser classificada em dois ou mais ageótipos. Além disso, o envelhecimento de uma parte do corpo pode acelerar o envelhecimento de outra: Se o sistema cardiovascular envelhecer mais rápido, por exemplo, essa pessoa provavelmente terá mais problemas nos rins, músculos ou ossos.

Por que é importante conhecer o ageótipo?

Para o professor Michael Snyder, o ponto mais importante da sua descoberta é que "ela mostra que é possível melhorar a forma em que envelhecemos. Saber quais partes estão envelhecendo mais rapidamente permite que nos dediquemos a trabalhar nessas áreas. Se você tem ageótipo metabólico, você cuida da alimentação. Se você estiver no grupo de estresse oxidativo, você toma mais antioxidantes. Se for imunológico, reforça o sistema imune," destaca ele.

De fato, durante a pesquisa houve pessoas que mostraram redução dos seus marcadores de envelhecimento, o que pode ser explicado por mudanças de estilo de vida dos participantes. Entre os que mostraram níveis reduzidos de hemoglobina A1c, muitos haviam perdido peso e um deles mudou sua alimentação", explica Snyder. "Alguns dos que observaram redução da creatina, que indica melhor função renal, estavam tomando estatinas [medicamentos usados para reduzir o colesterol]."

Checagem com artigo científico:

Artigo: Personal aging markers and ageotypes revealed by deep longitudinal profiling
Autores: Sara Ahadi, Wenyu Zhou, Sophia Miryam Schüssler-Fiorenza Rose, M. Reza Sailani, Kévin Contrepois, Monika Avina, Melanie Ashland, Anne Brunet, Michael Snyder
Publicação: Nature Medicine
Vol.: 26, pages 83-90
DOI: 10.1038/s41591-019-0719-5

Artigo: Ageotypes revisited: The brain and central nervous system dysfunction as a major nutritional and lifestyle target for healthy aging
Autores: Maria G. Grammatikopoulou, Efstathios Skoufas, Spyridon Kanellakis, Despina Sanoudou, Georgios A. Pavlopoulos, Aristides G. Eliopoulos, Kalliopi K. Gkouskou
Publicação: Maturitas
Vol.: 170, Pages 51-57
DOI: 10.1016/j.maturitas.2023.01.013

Artigo: Distinct biological ages of organs and systems identified from a multi-omics study
Autores: Chao Nie, Yan Li, Rui Li, Yizhen Yan, Detao Zhang, Tao Li, Zhiming Li, Yuzhe Sun, Hefu Zhen, Jiahong Ding, Ziyun Wan, Jianping Gong, Yanfang Shi, Zhibo Huang, Yiran Wu, Kaiye Cai, Yang Zong, Zhen Wang, Rong Wang, Min Jian, Xin Jin, Jian Wang, Huanming Yang, Jing-Dong J. Han, Xiuqing Zhang, Claudio Franceschi, Brian K. Kennedy, Xun Xu
Publicação: Cell Reports
Vol.: 38, 110459
DOI: 10.1016/j.celrep.2022.110459
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