Fluência na leitura das crianças
Ao estudar como a matéria cinzenta do cérebro das crianças se correlaciona com défices de fluência na leitura, cientistas descobriram que o quociente de inteligência (QI) não interfere com a disfluência na leitura.
Por outro, o nível socioeconômico da criança correlaciona-se claramente com o pior desempenho na capacidade de ler um texto.
E este não é um privilégio dos países pobres: Marta Martins e seus colegas de várias instituições europeias estudaram as crianças nos 38 países que integram a OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - e descobriram que 20% das crianças não atingem o nível básico de proficiência em leitura.
Uma das justificações para isto tem sido que a leitura é uma aptidão complexa que envolve simultaneamente vários sistemas neurocognitivos. A equipe decidiu aferir isto estudando a base cerebral da fluência de leitura. Eles fizeram isto focando em duas variáveis importantes: o QI (quociente de inteligência) e o nível socioeconômico (NSE).
Eles escolheram esses dois indicadores porque alguns estudos comportamentais anteriores associaram o baixo nível de QI à dificuldade persistente de leitura, convergindo para a visão de que os sistemas neuronais implicados na leitura poderiam diferir em leitores com dificuldades em função do QI.
No que diz respeito ao NSE (nível socioeconômico), vários estudos o relacionaram à variação do volume de matéria cinzenta, podendo refletir diferentes ambientes de aprendizagem (ter ou não livros em casa, por exemplo) com impacto na linguagem e desenvolvimento da alfabetização.
QI versus nível socioeconômico
Os estudantes foram divididos em grupos que concentravam leitores fluentes, leitores disfluentes com QI normal e leitores também disfluentes mas com QI baixo.
Os leitores disfluentes com QI normal e baixo não apresentaram diferenças nas regiões neuronais centrais para a leitura e, em ambos os subgrupos de leitores disfluentes, foi constatado um menor volume de massa cinzenta do que nos leitores fluentes (nas áreas occipito-temporal, parieto-temporal e fusiforme).
O exame do volume de massa cinzenta nos subgrupos de leitores disfluentes - diferindo apenas no nível socioeconômico - demonstrou que os leitores disfluentes de NSE mais alto tinham maior volume de matéria cinzenta no giro angular direito do que os seus pares de NSE inferior, e que o volume do subgrupo de NSE superior se correlacionou positivamente com a fluência de leitura, principalmente a associada ao conhecimento das palavras e à compreensão de texto.
"As duas descobertas resultantes deste estudo vêm se somar às evidências atuais sobre o efeito modulatório do NSE na relação cérebro-comportamento, e contribuem para um conhecimento aprofundado da neurocognição no perfil de leitores disfluentes, que pode fornecer pistas para estratégias de favorecimento da aprendizagem," disse a pesquisadora São Luís Castro, membro da equipe.
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