De agressora a defensora
Uma proteína que, quando se aglomera, causa estragos nos nervos e no coração, pode também prevenir a formação de aglomerados de proteínas tóxicas associadas à doença de Alzheimer.
Esta descoberta pode levar a novos tratamentos para essa condição devastadora do cérebro, que atualmente não tem terapias verdadeiramente eficazes e nenhuma cura.
Os pesquisadores sabem há muito tempo que as placas pegajosas de uma proteína conhecida como beta-amiloide são uma marca registrada do Alzheimer, embora haja muitas controvérsias se as beta-amiloides atacam ou defendem o cérebro.
Já em meados da década de 1990, descobriu-se também que outras proteínas estão presentes nessas placas.
Uma delas, uma proteína conhecida como transtirretina (TTR), parece ter um papel protetor do cérebro. De fato, quando animais de laboratório modelados com a doença de Alzheimer foram geneticamente alterados para produzir mais TTR, eles demoraram a desenvolver uma condição semelhante à do Alzheimer; da mesma forma, quando produziam menos TTR, desenvolveram a condição mais rapidamente.
Proteína TTR
Em pessoas e animais saudáveis, a TTR (transtirretina) ajuda a transportar o hormônio da tireoide e o retinol, derivado da vitamina A, para onde esses compostos são necessários no corpo. Para este trabalho, a TTR forma um tetrâmero, uma forma semelhante a um trevo com quatro folhas idênticas.
No entanto, quando esses tetrâmeros se separam em moléculas menores, chamadas monômeros, essas peças individuais podem agir de forma parecida com as beta-amiloides, formando fibrilas pegajosas que se unem em aglomerados tóxicos no coração e nos nervos, causando uma doença rara chamada amiloidose. Nessa condição, a proteína amiloide se acumula nos órgãos e interfere com sua função normal.
Para testar se haveria uma conexão entre os papéis separados da TTR na prevenção e na causa de doenças relacionadas à amiloide, o professor Qin Cao e seus colegas da Universidade Sudoeste do Texas (EUA) desenvolveram nove variantes diferentes de TTR, com diferentes propensões a se separar em monômeros que se agregam, formando fibrilas pegajosas. Algumas fizeram isso rapidamente, ao longo de horas, outras demoraram bem mais, enquanto um terceiro grupo se mostrou extremamente estável, não se dissociando em monômeros.
Proteção contra as beta-amiloides
Quando os pesquisadores misturaram essas variantes de TTR com beta-amiloides e as colocaram em células neuronais, eles constataram diferenças gritantes nos níveis de toxicidade apresentados pelas beta-amiloides.
As variantes que se separaram em monômeros e se agregaram rapidamente em fibrilas forneceram alguma proteção contra a beta-amiloide, mas uma proteção de vida curta. Aquelas que se separaram em monômeros, mas demoraram mais para agregar, forneceram uma proteção significativamente mais longa. E aquelas que nunca se separaram não forneceram nenhuma proteção contra a beta-amiloide.
De posse desses resultados promissores, a equipe já começou a testar se este peptídeo TTR modificado pode prevenir ou retardar a progressão da doença de Alzheimer em modelos de camundongos. Se tiverem sucesso, esse fragmento de proteína pode formar a base de um novo tratamento para Alzheimer, disse a professora Lorena Saelices, coordenadora da pesquisa.
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