Uma proteína extraída da semente de árvores da espécie Enterolobium contortisiliquum - popularmente conhecida como tamboril ou orelha-de-macaco - demonstrou potente ação antitumoral, anti-inflamatória, anticoagulante e antitrombótica.
Os testes em culturas de células e em animais foram realizados pela equipe da professora Maria Luíza Vilela Oliva, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A proteína, isolada pela própria professora Maria Luíza, recebeu o nome de de EcTI, sigla em inglês para inibidor de tripsina Enterolobium contortisiliquum.
"Estávamos buscando moléculas capazes de inibir a ação de proteases, enzimas cuja função é quebrar as ligações peptídicas de outras proteínas. Essas moléculas estão envolvidas em inúmeros processos fisiológicos e patológicos no organismo; um inibidor poderia ter efeitos terapêuticos interessantes", explicou Maria Luíza.
"Denominamos o EcTI como inibidor de tripsina porque essa foi a enzima modelo que começamos a estudar, por ser mais barata. Mas ele está patenteado como inibidor de várias proteases. Também patenteamos sua ação contra o câncer", contou Maria Luíza.
Medicamento natural contra o câncer
O efeito antitumoral do EcTI já foi testado em linhagens celulares de câncer de mama, próstata, colorretal, leucemia e melanoma (pele). Em todos os modelos, a molécula inibiu a proliferação celular.
Em uma linhagem de células de câncer gástrico, os pesquisadores verificaram que o EcTI impediu a adesão da célula cancerosa ao tecido conjuntivo e, consequentemente, bloqueou a invasão e a migração celular.
"Antes de migrar para outros tecidos, a célula tumoral precisa aderir ao tecido conjuntivo que lhe dá suporte. O EcTI bloqueia proteases presentes na matriz extracelular e a via de sinalização usada pelo tumor nesse processo sem afetar os fibroblastos, que são as células sadias desse tecido conjuntivo", explicou Maria Luíza.
Em uma linhagem celular de melanoma, os pesquisadores testaram um tratamento que associava o EcTI ao quimioterápico 5-Fluoracil. "A dose de quimioterápico necessária para matar a célula cancerígena foi cem vezes menor quando associado ao EcTI. Caso esse efeito seja comprovado também in vivo, vai representar uma enorme redução dos efeitos colaterais do tratamento do câncer", disse a pesquisadora.
Outros dois inibidores de proteases foram identificados pelo grupo de Maria Luíza em uma planta popularmente conhecida como pata-de-vaca (Bauhinia bauhinioides).
"São duas proteínas diferentes extraídas da mesma planta e batizadas de BbCI (Bauhinia bauhinoides inibidor de cruzipaína) e BbKI (Bauhinia bauhinioides inibidor de calicreína). Elas atuam por vias diferentes e estamos comprovando efeitos terapêuticos em modelos animais de câncer, trombose, inflamação e diabetes", concluiu a pesquisadora.
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