Pesquisadores da USP descobriram que o papel desempenhado pela serotonina varia nos diversos tipos de transtornos de ansiedade.
A expectativa é que essa descoberta leva a um aprimoramento do diagnóstico e do tratamento desses transtornos.
Em pessoas com transtornos de ansiedade, existem pelo menos dois grupos que apresentam respostas diferentes a variações abruptas nos níveis de serotonina, conforme o tipo de transtorno.
Ansiedades diferentes
Em um dos grupos, o transtorno está mais relacionado a ameaças potenciais de risco imediato.
"Isso ocorre em casos de transtorno de estresse pós-traumático, fobia social e transtorno do pânico. Nessas situações, mais associadas ao medo, a redução muito rápida da serotonina tende a aumentar a sensibilidade aos estímulos temidos pelo portador do transtorno," relata Felipe Corchs, que realizou o estudo em conjunto com seu colega Marcio Bernik.
Quando o transtorno envolve ameaças potenciais distantes, como ansiedade generalizada e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), a queda abrupta da serotonina não provoca o aumento da sensibilidade aos estímulos causadores de sintomas.
"Embora os dois grupos de pacientes sejam tratados com o mesmo tipo de medicação, o controle dos distúrbios se dá a longo prazo", aponta o pesquisador. "A análise demonstra que a redução de serotonina influência os pacientes de modos diferentes, conforme o tipo de transtorno de ansiedade".
Classificação dos transtornos de ansiedade
De acordo com o pesquisador, novos estudos precisam ser desenvolvidos com metodologia específica para identificar as características clínicas exatas dos pacientes que têm esses dois perfis farmacológicos de forma independente dos atuais critérios diagnósticos do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) e da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID).
"Isto poderá contribuir para o delineamento de critérios diagnósticos baseados em etiologia, ou seja, do ponto de vista não dos sintomas, mas dos efeitos no cérebro", concluiu.
Triptofano
A evidência é baseada no estudo dos efeitos da redução abrupta dos níveis do triptofano, aminoácido precursor da serotonina, que faz a comunicação entre neurônios.
O triptofano não é produzido pelo organismo, sendo incorporado ao corpo humano por meio da alimentação (ingestão de proteínas).
Por ser o único único precursor da serotonina, sua redução abrupta culmina em queda abrupta também dos níveis de serotonina, que funciona como neurotransmissor nas células do sistema nervoso entre outras funções. Dessa forma, divergências nos efeitos dessa diminuição sobre os sintomas dos transtornos estudados permitiram avaliar supostas diferenças no papel da serotonina em subgrupos de transtornos agrupados sob o termo "transtornos de ansiedade".
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