21/11/2008

Mulheres reconhecem mais raiva e tristeza do que homens

Agência USP

Percepção das emoções

A partir do reconhecimento de expressões faciais feito por grupos de homens e mulheres, uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da USP, revelou que os dois sexos processam emoções de modos diferentes.

O trabalho do psiquiatra Vinicius Guandalini Guapo também indica que os hormônios sexuais e o ciclo menstrual podem estar associados à percepção diferenciada entre as mulheres. A identificação dessas mudanças auxiliará no diagnóstico e tratamento de patologias psiquiátricas, como ansiedade e depressão.

Expressões faciais básicas

A pesquisa avaliou a habilidade de 38 voluntários, 8 homens e 30 mulheres, no reconhecimento de seis expressões faciais básicas: raiva, medo, tristeza, asco, alegria e surpresa. Os resultados foram relacionados com a fase do ciclo menstrual das mulheres e com os níveis dos hormônios sexuais de todos os voluntários. As mulheres foram avaliadas em três grupos: folicular precoce, (dias 1 a 5 do ciclo menstrual), periovulatório (dias 12 a 14 do ciclo menstrual) e luteal (dias 21 a 23 do ciclo menstrual).

"Avaliamos especificamente a variação do estrogênio e da progesterona de acordo com o ciclo menstrual, ou seja, o quanto esses hormônios ou os dois juntos modulam o processamento de emoções em expressões faciais", conta o psiquiatra. "Não estávamos buscando a chamada Tensão Pré-Menstrual (TPM), quando estão altos o estrogênio e a progesterona".

Emoções e ciclo menstrual

As mulheres na fase menstrual, quando o estrogênio e a progesterona estão em baixa, reconheceram raiva com mais precisão do que as mulheres em outras fases e do que os homens.

A hipótese é que esse resultado está relacionado especificamente ao nível baixo de estrogênio. "Estudos em animais e pesquisas em humanos já mostraram que o estrogênio se relaciona com a serotonina, um grande modulador de processamento de emoção. Esse é provavelmente o motivo pelo qual mulheres com queda abrupta de estrogênio têm maior risco de episódios depressivos e de ansiedade", revela Guapo. "Nas fases pré-menstrual, pós-parto e menopausa as mulheres estão mais sujeitas a esses episódios".

Outra emoção que as mulheres na fase menstrual reconheceram com mais exatidão foi a tristeza. "A leitura é a mesma. Quando você tem baixo estrogênio e, provavelmente, baixo nível de serotonina, reconhece mais tristeza no outro, talvez esteja relacionando, também, com episódios depressivos e de ansiedade", avalia. O pesquisador relata que a emoção "surpresa", foi mais difícil de ser avaliada, pois se trata de uma expressão facial ambígua, pode ser surpresa negativa e positiva. "As mulheres da fase luteal reconheceram melhor a surpresa. As outras emoções avaliadas não apresentaram resultados significantes", diz.

Emoções para homens e mulheres

As conclusões da pesquisa abrem caminhos para que o diagnóstico, o prognóstico e até o tratamento de pessoas com patologias psiquiátricas, leve em consideração as diferenças entre homens e mulheres. "Se há diferenças entre o processamento de emoções de homens e mulheres as patologias psiquiátricas podem ter uma apresentação também diferente entre os gêneros", avalia o psiquiatra. "Então, em longo prazo, podemos imaginar que o tratamento e até a evolução dessas patologias em homens e mulheres também sejam diferentes. Hoje, tanto diagnóstico como tratamento são os mesmos".

O ineditismo da pesquisa, segundo Guapo, foi comparar todos esses diferenciais entre homens e mulheres. "Também medimos todos os níveis de testosterona. Alguns estudos indicam que variam os níveis de testosterona em homens em períodos do dia, como da manhã para a tarde e durante épocas do ano. Isso pode interferir no reconhecimento de expressão facial", diz. "No estudo houve uma tendência do nível de testosterona em homens correlacionar negativamente com o reconhecimento da expressão de medo. Mas foi só uma tendência, sem resultado expressivo".

Reconhecimento de expressões faciais

O reconhecimento de expressões faciais vem ganhando cada vez mais espaço no meio científico, pois é fundamental nas relações humanas identificar o sentimento do outro. De acordo com o psiquiatra, dados na literatura médica indicam que o reconhecimento de expressões faciais, de alguma maneira, também está relacionado com patologias psiquiátricas como, por exemplo, depressão e ansiedade.

Entretanto, Guapo alerta que a ciência ainda tem um longo caminho nessa área. "Não se sabe, por exemplo, se o processamento das emoções é anterior ou posterior à patologia psiquiátrica", destaca. "A questão básica a ser respondida é: fico deprimido porque reconheço mais tristeza no outro ou passo a reconhecer tristeza no outro porque estou deprimido? Que estão correlacionadas já se sabe".

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