Resultados indesejados
Uma nova pesquisa que investigou os efeitos adversos em pacientes submetidos ao tratamento de tuberculose identificou que uma parcela de 49,1% dos indivíduos relatou efeitos colaterais.
Os efeitos mais frequentes foram os relacionados ao trato gastrointestinal (40,3%) - como dor no estômago, náuseas e vômitos - e a lesões na pele (22,1%). Apesar de ter atingido um pequeno número, os efeitos colaterais que mais exigiram modificações no tratamento foram relacionados à hepatite induzida por medicamentos.
O estudo, publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia, mostra ainda que os efeitos adversos foram mais frequentes nos primeiros dois meses de tratamento - caso de 58,4% dos pacientes. Os autores do artigo são Denise Eri Onodera Vieira, médica pneumologista da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, e Mauro Gomes, professor de Pneumologia da Faculdade de Ciências Médicas da mesma instituição.
Efeitos colaterais dos medicamentos
De acordo com Denise, os fármacos utilizados no tratamento da tuberculose, assim como qualquer medicamento, são capazes de produzir efeitos colaterais por ação direta da substância química ou indiretamente, seja por meio da produção de compostos reativos durante o seu metabolismo, seja por reações de hipersensibilidade e superdosagem.
"O problema ocorre devido à interação de duas ou mais drogas, o que resulta em modificações no perfil farmacocinético dos medicamentos com consequências sobre a taxa de formação dos seus metabólitos, aumentando assim a frequência de efeitos colaterais", disse Denise à Agência FAPESP.
Segundo a pesquisadora, a maioria dos efeitos colaterais é leve e, nesse caso, medicamentos sintomáticos, em geral, são suficientes. Em casos em que não há melhora do quadro, relata Denise, pode-se mudar o horário da administração dos medicamentos, se o efeito colateral estiver relacionado ao trato gastrointestinal, ou suspender as medicações temporariamente.
"Com a melhora dos sintomas, é possível tentar a reintrodução das medicações uma a uma, com intervalos de alguns dias. Dessa forma, a substituição por outros medicamentos é indicada se for possível reconhecer a droga causadora da reação adversa pelo retorno dos sintomas quando o medicamento é reintroduzido", explica a pneumologista.
Adoção de tratamentos alternativos
Mas nos casos em que os efeitos colaterais são maiores é necessária a mudança do esquema de tratamento por um alternativo. "No caso da hepatite medicamentosa, é imperativo avaliar o quadro clínico juntamente com as alterações laboratoriais e decidir, caso a caso, se deve ser feita a troca ou substituição das medicações", afirma.
De acordo com Denise, a frequência de efeitos colaterais aumenta consideravelmente com a presença de doenças associadas, como Aids, alcoolismo, doença hepática preexistente ou desnutrição. "Além disso, o uso concomitante de alguns medicamentos pode aumentar a frequência de efeitos colaterais, principalmente hepatotoxicidade."
A pesquisadora diz que o estudo apresenta algumas limitações porque, com exceção dos pacientes com sorologia anti-HIV positiva, "não foi possível separar esses grupos e compará-los, o que influencia bastante os resultados finais", disse.
Efeitos colaterais desconhecidos
"Outro fator limitante foi a dificuldade em detectar especificamente a droga causadora do efeito colateral, justamente pelo fato de sempre ocorrer na vigência de dois ou três medicamentos associados. Seria interessante uma continuidade do trabalho, incluindo nesse caso o estudo dessas variáveis. Por enquanto, isto ainda é uma ideia", destaca.
Outro ponto que a pneumologista destaca é que alguns efeitos colaterais detectados no estudo não haviam sido citados anteriormente na literatura, como, por exemplo, perda de memória, alopecia (queda de cabelo), diminuição da libido e acne, que foi um efeito relativamente comum.
"Isso abre novos questionamentos e dá margem para o aprofundamento dos estudos sobre o assunto e para novas discussões futuras. Novas drogas e esquemas para o tratamento da tuberculose estão em estudo e a esperança é que no futuro seja possível associar alta eficácia com baixa incidência de efeitos colaterais", afirma Denise.
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