Eliminação do HIV
Há seis anos, o infectologista Ricardo Diaz devota a maior parte do seu tempo à solução de um dos maiores problemas de saúde do nosso tempo: a infecção pelo vírus HIV e a AIDS.
E ele pode estar chegando mais perto da cura, com a eliminação total do vírus do organismo dos pacientes.
O tratamento contra o HIV disponível atualmente no Sistema Único de Saúde (SUS) é um coquetel de três medicamentos que inibe o máximo possível a reprodução do vírus no corpo, enquanto mantém o sistema imunológico atuante e protege contra infecções oportunistas.
O HIV, no entanto, não é completamente eliminado do organismo, e pode voltar.
Diaz lidera um grupo de especialistas na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que conseguiu erradicar completamente o vírus HIV de duas pessoas soropositivas.
Agora, elas estão sendo acompanhadas para ver como seu organismo reage sem o tratamento experimental.
O estudo ainda não foi publicado, mas será apresentado na íntegra, pela primeira vez, no Congresso Internacional de AIDS, o mais importante do mundo sobre o tema, que acontece na Holanda a partir desta segunda-feira.
Impedindo a volta do vírus HIV
A equipe de pesquisadores brasileiros fez uma combinação de medicamentos já utilizados em todo o mundo com mais duas substâncias ainda não usadas neste tipo de tratamento, além de "vacinas personalizadas", medicamentos feitas com base no DNA de cada participante e voltados para reforçar seu sistema imunológico.
Além do coquetel antirretroviral, foi usada a nicotinamida, ou vitamina B3, um suplemento alimentar que é vendido em farmácias, mas nunca usado contra o vírus HIV. Ele "acorda" as células com o vírus latente no corpo.
Também foi usado o sal de ouro (aurotiomalato de sódio aquoso), medicação usada para tratar doenças como artrite, que não chega a despertar as células com HIV, mas as leva à apoptose, ou morte programada das células.
E, para eliminar os "santuários" de vírus no organismo dos pacientes, os pesquisadores desenvolveram uma complexa vacina personalizada, que faz com que o sistema imunológico volte a reconhecer o vírus dentro do corpo, encontre esses santuários e mate o vírus. Essa é a parte mais complicada e a mais cara do processo, que exige produzir medicamentos específicos para cada paciente a ser tratado.
"É a primeira vez no mundo que alguém experimenta esse tratamento específico que fizemos, e a primeira vez que temos resultados tão positivos na primeira etapa. Estamos dando mais um passo na direção da cura", afirmou Diaz.
Cura esterilizante
O tratamento proposto pelos pesquisadores brasileiros quer chegar à "cura esterilizante", que é a eliminação completa do vírus, sem a possibilidade de que ele volte a se replicar - atualmente, o vírus retorna se o paciente soropositivo parar de tomar o coquetel de antirretrovirais.
De acordo com Diaz, a cura total de pacientes com HIV enfrenta três grandes obstáculos - o fato de que o vírus continua se replicando no corpo mesmo com o coquetel, que apenas mantém essa replicação baixa; o fato de que o vírus fica latente, ou seja, "adormecido", e pode voltar à atividade de maneira aleatória; e a existência dos "santuários", locais do corpo humano onde os medicamentos são pouco distribuídos e o HIV pode continuar se desenvolvendo.
"O que fizemos foi combinar tratamentos que pudessem superar todas estas barreiras", afirmou o médico.
A primeira etapa do estudo - feito com 30 pessoas - foi finalizada. Apenas cinco delas receberam a combinação completa de tratamentos, e entre elas, duas parecem estar livre do vírus, de acordo com os exames. Este grupo deve ser expandido para pelo menos 50 pessoas até o fim do ano.
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