Remédio contra Alzheimer não é estudado
Um medicamento para artrite parece reduzir significativamente o risco de desenvolver a doença de Alzheimer - mas não há planos para descobrir se ele realmente funciona.
O jornal norte-americano The Washington Post publicou uma reportagem dando conta de que a empresa farmacêutica Pfizer tem dados que mostram que o medicamento para artrite de sua fabricação, chamado Enbrel, também pode reduzir o risco de contrair a doença de Alzheimer em até 64%.
Mas, de acordo com os críticos, a Pfizer optou por não desenvolver o medicamento para essa condição porque sua patente expirará em breve, o que significa que a empresa não vai lucrar com a continuação dos estudos.
A Pfizer nega que a patente tenha sido um fator na decisão. Existem maneiras de estender as patentes se algo parecer lucrativo - e, com uma estimativa de 37 milhões de pessoas com Alzheimer em todo o mundo, certamente um remédio para esse transtorno seria lucrativo. A empresa disse ao The Washington Post que simplesmente não estava convencida pelos dados dos estudos científicos.
Em 2009, a Pfizer foi multada em US$ 2,3 bilhões por fraude na venda de remédios nos EUA, a maior multa da história no setor farmacêutico.
Enbrel (etanercept)
O Enbrel, também conhecido como etanercept, é usado atualmente para tratar a artrite reumatoide, ajudando a controlar a resposta inflamatória do corpo. Ele contém uma proteína que se liga ao TNF-alfa, um sinal-mestre liberado pelas células para desencadear a inflamação quando detectam algo estranho, como bactérias.
A inflamação é útil para destruir patógenos, mas também pode prejudicar o corpo e está envolvida em várias doenças associadas ao envelhecimento. Como a artrite reumatoide, sabe-se que a doença de Alzheimer envolve o TNF-alfa.
Mineração de dados
As descobertas da Pfizer emergiram da análise de conjuntos de dados de companhias de seguros, que incluem milhões de doenças, tratamentos e resultados. Das cerca de 400 pessoas com artrite reumatoide estudadas, aquelas que usaram o Enbrel apresentaram menor probabilidade de desenvolver o mal de Alzheimer do que os pacientes que usaram outros tratamentos.
A Pfizer nunca publicou essa análise, mas essa conexão entre Enbrel e Alzheimer não é exatamente um segredo.
Em 2016, a equipe do professor Richard Chou, atualmente na Universidade Estadual de Nova York, publicou sua própria análise dos registros de seguros. De 300 pessoas aleatoriamente selecionadas com artrite reumatoide, as que tomavam Enbrel apresentaram apenas um terço da propensão a ter a doença de Alzheimer apresentada pelas pessoas que usavam outros tratamentos. Pequenos estudos em Taiwan e no Reino Unido também documentaram que o Enbrel pode melhorar os sintomas da doença de Alzheimer.
"Temos dito há uma década que limpar o TNF com etanercept terá um efeito benéfico na doença de Alzheimer," confirmou o professor Bryce Vissel, da Universidade de Tecnologia de Sydney (Austrália).
O pesquisador se diz frustrado que um ensaio clínico completo sobre os efeitos do Enbrel sobre o Alzheimer ainda não tenha sido feito. A julgar pelo até agora anunciado pela Pfizer, ele não será feito tão cedo.
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