Infância determinante
A falta de saneamento básico e de acesso a água potável de qualidade podem estar na origem de problemas como déficit de estatura e de outras condições associadas à desnutrição.
"As crianças estão sobrevivendo mais, tanto nos países desenvolvidos como nas nações em desenvolvimento. Porém, boa parte delas não está prosperando como poderia e não consegue atingir seu potencial de desenvolvimento cognitivo e físico. E isso tem uma tremenda implicação para os países," afirmou a pesquisadora Helen Raikes, da Universidade Nebraska-Lincoln (EUA), durante visita ao Brasil em um evento promovida pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Segundo a pesquisadora, já se sabia que há uma relação entre a ocorrência frequente de diarreia e a mortalidade infantil, mas "estudos recentes têm mostrado que infecções bacterianas repetidas também podem afetar as vilosidades intestinais e o perfil da microbiota - prejudicando a absorção de nutrientes para o resto da vida."
Quando o problema ocorre em períodos de alta vulnerabilidade, como os primeiros dois anos de vida, os danos podem ser definitivos.
Segundo Raikes, três áreas são particularmente comprometidas: o desenvolvimento cognitivo, a estatura e o microbioma intestinal [fortemente relacionado com a saúde metabólica e a imunidade]. Isso cria grandes disparidades no desenvolvimento de crianças de diferentes contextos socioeconômicos e causa perda de potencial humano", afirmou a pesquisadora.
Segundo ela, a neurociência tem mostrado que as experiências que um indivíduo vivencia nos primeiros anos de vida são incorporadas no organismo e constroem as bases para as experiências futuras - um período de desenvolvimento é construído com base no anterior.
Situações precárias
Reduzir as taxas de mortalidade infantil foi uma das metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) no ano 2000, por meio dos Objetivos do Milênio. Contudo, embora muitos avanços nesse sentido venham sendo alcançados nas duas últimas décadas em todo o mundo, há regiões que parecem não ter-se beneficiado.
Um desses casos, que mostra a importância dos primeiros mil dias de vida para o desenvolvimento infantil, foi abordado durante o evento pela professora Marly Augusto Cardoso, da USP. Ela apresentou resultados de uma pesquisa feita ao longo de 10 anos no município de Acrelândia (AC) com cerca de mil crianças menores de 10 anos.
"O que chama atenção nessa região, em relação ao cenário nacional, é que a desnutrição infantil - e consequentemente o déficit de estatura e a prevalência de anemia - não diminuiu tão fortemente como em outros estados brasileiros. O Acre ainda apresenta indicadores de saúde infantil bem precários. A ocorrência de diarreia em crianças pequenas, por exemplo, é bem mais frequente do que em outras regiões," disse Marly.
Ao mesmo tempo, é possível observar um ganho de peso excessivo nas crianças em fase escolar - possivelmente causado pela substituição do padrão alimentar tradicional pelo moderno, composto principalmente de produtos industrializados.
"Isso configura um cenário de carga dupla de doenças relacionadas ao estado nutricional: ainda há deficiências não completamente sanadas e, ao mesmo tempo, risco de ganho excessivo de peso que predispõe a doenças cardiovasculares e metabólicas na vida adulta", comentou a pesquisadora.
Ver mais notícias sobre os temas: | |||
Saúde Pública | Higiene Pessoal | Cuidados com o Recém-nascido | |
Ver todos os temas >> |
A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.