09/03/2020

Lítio pode interromper a progressão da doença de Alzheimer?

Redação do Diário da Saúde
Lítio pode interromper a progressão da doença de Alzheimer?
Pesquisadores brasileiros também estão trabalhando no uso do lítio em pacientes com Alzheimer.
[Imagem: Tânia Araújo Viel]

Lítio e Alzheimer

Existe uma controvérsia nos círculos científicos sobre o valor da terapia de lítio no tratamento da doença de Alzheimer.

Muito disso decorre do fato de que, como as informações coletadas até o momento foram obtidas usando uma infinidade de diferentes abordagens, condições, formulações, época do tratamento e dosagens, os resultados são difíceis de serem postos na mesma base para se fazer uma comparação ponderada.

Além disso, tratamentos contínuos com alta dosagem de lítio produzem vários efeitos adversos graves, tornando essa abordagem impraticável para tratamentos de longo prazo, especialmente em idosos.

Mas todas essas discussões podem ser postas de lado, bastando para isso reduzir drasticamente a dose do fármaco.

Um novo estudo mostrou que, quando administrado em uma formulação que facilita a passagem para o cérebro, o lítio em doses até 400 vezes menores do que o que está sendo prescrito atualmente para transtornos de humor é capaz tanto de interromper a progressão dos sinais da patologia avançada da doença de Alzheimer - como placas amiloides - quanto de levar à recuperação de habilidades cognitivas perdidas.

Microdoses de lítio

Edward Wilson e seus colegas da Universidade McGill (Canadá) primeiro investigaram a formulação convencional de lítio e a aplicaram inicialmente em ratos em uma dosagem semelhante à usada na prática clínica para transtornos do humor. Os resultados foram decepcionantes, pois os ratos rapidamente apresentaram vários efeitos colaterais adversos.

Os pesquisadores foram então atrás de uma formulação de lítio encapsulada, de baixa dosagem, que já havia revelado alguns efeitos benéficos contra a doença de Huntington - essa formulação é conhecida como NP03.

Essa microdosagem mostrou que os resultados benéficos na diminuição da patologia e na melhoria da cognição também podem ser alcançados em estágios mais avançados, semelhantes aos estágios pré-clínicos tardios da doença, quando placas amiloides já estão presentes no cérebro e quando a cognição começa a declinar.

"De um ponto de vista prático, nossas descobertas mostram que microdoses de lítio em formulações como a que usamos, que facilitam a passagem para o cérebro através da barreira hematoencefálica, ao mesmo tempo em que minimizam os níveis de lítio no sangue, poupando indivíduos de efeitos adversos, devem encontrar aplicações terapêuticas imediatas.

"Embora seja improvável que qualquer medicamento vá reverter os danos no cérebro nos estágios clínicos da doença de Alzheimer, é muito provável que um tratamento com microdoses de lítio encapsulado tenha efeitos benéficos tangíveis nos estágios pré-clínicos iniciais da doença," disse o professor Claudio Cuello, coordenador da pesquisa.

Checagem com artigo científico:

Artigo: NP03, a Microdose Lithium Formulation, Blunts Early Amyloid Post-Plaque Neuropathology in McGill-R-Thy1-APP Alzheimer-Like Transgenic Rats
Autores: Edward N. Wilson, Sonia Carmo, Lindsay A. Welikovitch, Hélène Hall, Lisi Flores Aguilar, Morgan K. Foret, M. Florencia Iulita, Dan Tong Jia, Adam R. Marks, Simon Allard, Joshua T. Emmerson, Adriana Ducatenzeiler, A. Claudio Cuello
Publicação: Journal of Alzheimer's Disease
DOI: 10.3233/JAD-190862
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