Na luta contra os parasitas, uma planta sacrifica suas próprias sementes de forma seletiva, agindo de acordo com suas chances de sobrevivência.
Isso mostra que as plantas também são capazes de tomar decisões complexas.
A descoberta dessa "inteligência vegetal" surpreendente acaba de ser divulgada por cientistas do Centro Helmholtz para Pesquisa Ambiental e da Universidade de Gottingen, ambos na Alemanha.
O estudo envolveu a uva-espim (Berberis vulgaris), também conhecida como barberry, espinho vinhoso ou espinheiro-vinhedo.
As observações mostraram que a planta é capaz de interromper o crescimento das suas próprias sementes para prevenir a infestação de parasitas.
E ela não faz isso de forma simples ou radical - seu comportamento é complexo, o que torna esta a primeira prova ecológica de um comportamento complexo em plantas.
Memória vegetal
O estudo indica que a planta tem uma memória estrutural, sendo capaz de diferenciar entre condições internas e condições do ambiente, bem como de prever futuros riscos.
A uva-espim é uma espécie de arbusto distribuído por toda a Europa, e é parente da uva óregon (Mahonia aquifolium), que é nativa da América do Norte e que vem se espalhando pela Europa há anos.
Os cientistas compararam as duas espécies para ver se havia diferenças na infestação parasitária de uma espécie altamente especializada de mosca-da-fruta (tefritídeos), cujas larvas se alimentam das sementes dessas plantas.
Este parasita perfura os frutos a fim de colocar seus ovos dentro deles. Se a larva é capaz de desenvolver-se, ela frequentemente come todas as sementes da baga.
Uma característica especial da uva-espim é que cada baga tem geralmente duas sementes e a planta é capaz de interromper o desenvolvimento de suas sementes a fim de economizar recursos quando o tempo não ajuda. Este mecanismo também é utilizado para defendê-la da mosca-da-fruta.
Selecionando quem sacrificar
Se uma semente for infestada pelo parasita, as larvas se alimentarão de ambas as sementes. Se, no entanto, a planta abortar a semente infestada, o parasita vai morrer e a segunda semente na baga é salva.
Ao analisar as sementes, os cientistas se depararam com uma descoberta surpreendente: "As sementes das frutas infestadas nem sempre são abortadas, isso depende de quantas sementes existem nos frutos," explica a Dra. Katrin Meyer, uma das autoras do estudo.
Se o fruto infestado tiver duas sementes, em 75% dos casos as plantas vão abortar apenas a semente infestada a fim de salvar a segunda semente intacta.
Se, contudo, o fruto infestado contiver apenas uma semente, então a planta só vai abortar a semente infestada em 5% dos casos.
"Se a barberry abortar um fruto com apenas uma semente infestada, então todo o fruto estaria perdido. Em vez disso, ela parece 'especular' com a chance de que a larva morra naturalmente, o que é uma possibilidade. Pequenas chances são melhores do que nada," acrescenta o Dr. Hans-Hermann Thulke.
Inteligência das plantas
"Este comportamento de antecipação, em que as perdas previstas e as condições externas são avaliadas nos surpreendeu muito. A mensagem do nosso estudo é, portanto, de que a inteligência das plantas está entrando nos reinos da possibilidade ecológica," concluiu Thulke.
Ainda não está claro como a planta processa as informações. O paradigma científico atual estabelece que inteligência é uma função do cérebro. Como plantas não têm cérebro, elas estavam "proibidas" de ter inteligência. Mais uma vez, parece que as coisas não são tão simples como parecia à primeira vista.
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