Cérebro e música
O gosto pela música pode não ser um elemento individual que nasce conosco, ou que trazemos em nosso espírito.
Experimentos de neurociência acabam de demonstrar que é possível aumentar ou diminuir o quanto gostamos de uma música e o nosso desejo de ouvir mais daquele estilo musical.
Os teóricos da música têm defendido que, embora o gosto musical seja relativo, nosso prazer pela música - seja clássica ou heavy metal - surge, entre outros aspectos, de características estruturais da música, como padrões de cordas ou ritmos que geram antecipação e expectativa. Sendo assim, seria preciso mexer com a música para influenciar o gosto pessoal.
Na prática, porém, todos sabemos que uma música que entusiasma alguns pode ser extremamente irritante para outros.
Um grupo de três neurocientistas do Instituto Neurológico de Montreal e da Universidade McGill (Canadá) queria saber o que o cérebro tem a ver com esse nosso espírito musical - independentemente da música. Para isso, eles usaram uma tecnologia não invasiva para mexer com determinados circuitos cerebrais de voluntários, escolhidos por apresentarem diferentes gostos musicais.
Sintonizando o cérebro
Para modular o funcionamento dos circuitos cerebrais, a equipe usou a técnica de estimulação magnética transcraniana (EMT), que usa pulsos magnéticos para estimular ou inibir partes selecionadas do cérebro. Nesse caso, a EMT foi aplicada sobre o córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo. Estudos de imagem cerebral mostraram que a estimulação sobre essa região modula o funcionamento dos circuitos fronto-estriatais, levando à produção de dopamina, um neurotransmissor chave no processamento de recompensas.
Em três sessões separadas, os voluntários receberam tratamentos excitatórios, inibitórios ou inertes. Após a estimulação, os participantes ouviam sua música favorita, bem como uma seleção de músicas escolhidas pelos pesquisadores.
Os resultados mostraram que, em comparação com a sessão de controle, as medidas psicofisiológicas de emoção e a motivação dos participantes para ouvir mais música foram acentuadas pela EMT excitatória, e todas igualmente atenuadas pela EMT inibitória.
Em termos mais simples, dá para amplificar ou reduzir o gosto das pessoas por cada tipo de música, mesmo das músicas preferidas pelas pessoas.
Aplicações clínicas
"Mostrar que o prazer e o valor da música podem ser alterados pela aplicação da EMT não é apenas uma demonstração importante e notável de que os circuitos por trás dessas respostas complexas agora estão sendo melhor compreendidos, mas também possuem possíveis aplicações clínicas," disse o professor Robert Zatorre, coordenador da equipe.
"Muitos distúrbios psicológicos, como o vício, a obesidade e depressão envolvem uma má regulação dos circuitos de recompensa. Demonstrar que esse circuito pode ser manipulado de forma tão específica em relação à música abre as portas para muitas possíveis aplicações futuras nas quais o sistema de recompensa pode precisar estar mais ou menos ativado," concluiu Zatorre.
Os resultados foram publicados na revista Nature Human Behaviour.
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