02/06/2017

Experimento poderá provar que mente humana é imaterial

Com informações da New Scientist
Físico propõe experimento para ver se mente humana é imaterial
Já está bem documentado que os computadores estão moldando nossa experiência cotidiana. Mas será que nossa mente pode mudar a matéria propriamente dita?
[Imagem: Cortesia Charité - Universitätsmedizin Berlin]

Fronteira entre mente e matéria

A fronteira entre a mente e a matéria pode ser testada usando uma variação de um experimento bem conhecido na física quântica.

Nas últimas duas décadas, um tipo de experiência, conhecida como teste de Bell, confirmou todas as esquisitices da mecânica quântica - como a "ação fantasmagórica à distância" que tanto incomodou Einstein, em que uma partícula afeta a outra a qualquer distância de forma instantânea.

Agora, um físico canadense está propondo um experimento do tipo teste de Bell usando algo sem precedentes: a consciência humana. Se a experiência revelar desvios em relação à mecânica quântica, isto poderia ser interpretado como o primeiro indício de que nossas mentes são potencialmente imateriais ou, pelo menos, estão além da matéria usual que conhecemos.

Fantasmas na realidade

A "ação fantasmagórica à distância" foi um termo pejorativo que Einstein cunhou para um efeito quântico chamado emaranhamento, ou entrelaçamento. Se duas partículas estiverem entrelaçadas, então medir o estado de uma partícula influencia instantaneamente o estado da outra, mesmo que elas estejam a anos-luz de distância uma da outra.

Mas qualquer sinal passando entre as duas partículas teria que viajar mais rápido do que a velocidade da luz, quebrando o limite de velocidade cósmica, estabelecido pelo próprio Einstein. Para ele, isso implicava que a teoria quântica estava incompleta e que havia uma teoria mais profunda que poderia explicar o comportamento das partículas sem recorrer a estranhas influências instantâneas à distância. Muitos físicos têm tentado encontrar essa teoria mais profunda desde então.

Em 1964, o físico John Bell idealizou uma forma para testar se as partículas realmente influenciam umas às outras. Isso é feito enviando uma partícula de uma posição A para uma posição B e monitorando ambas de forma totalmente aleatória, de forma a não haver possibilidade de induzir ou permitir uma comunicação entre elas. Todos os experimentos desse tipo feitos até agora, com uma precisão cada vez maior, têm dado apoio à física quântica e tirado a razão de Einstein.

No entanto, alguns físicos argumentam que mesmo os geradores de números aleatórios, essenciais nesses experimentos, podem não ser verdadeiramente aleatórios. Eles podem ser governados por alguma física subjacente que ainda não compreendemos, e este chamado "super-determinismo" poderia explicar as correlações observadas.

Físico propõe experimento para ver se mente humana é imaterial
Recentemente uma equipe alegou ter medido um estado mais elevado de consciência - ainda que a ciência esteja longe de chegar a uma definição de consciência.
[Imagem: Beckley/Imperial Research Foundation]

Questão do livre arbítrio

Agora, Lucien Hardy, do Instituto Perímetro (Canadá), sugeriu que as medições nas posições A e B podem ser controladas por algo potencialmente separado do mundo material: a mente humana.

"[O filósofo francês René] Descartes desenvolveu essa dualidade mente-matéria, [onde] a mente está fora da física regular e intervém no mundo físico," explica Hardy.

Para testar essa ideia, Hardy propôs um experimento no qual A e B estão a 100 quilômetros de distância. Em cada extremidade, cerca de 100 pessoas são ligadas a aparelhos de eletroencefalograma (EEG) que leem a atividade cerebral de cada uma. Estes sinais são então utilizados para determinar o funcionamento dos equipamentos de medição nos pontos A e B, em substituição aos geradores de números aleatórios, que tentam dar acaso às medições.

A ideia é realizar um número extremamente grande de medições em A e B e extrair a pequena fração em que os sinais EEG causam mudanças nas partículas depois que elas partiram de sua posição original (A), mas antes de chegarem (B) e serem medidas.

Se a correlação entre essas medições não coincidir com os testes anteriores de Bell, isso implica uma violação da teoria quântica, sugerindo que as medições em A e B estão sendo controladas por processos fora do âmbito da física padrão - pela eventualmente "imaterial" mente humana.

"Se você vir apenas uma violação da teoria quântica quando você tiver sistemas que possam ser considerados como conscientes - humanos ou outros animais -, isso certamente será excitante. Eu não posso imaginar um resultado experimental mais impressionante na física do que isso," disse Hardy.

Físico propõe experimento para ver se mente humana é imaterial
Os sonhos lúcidos são uma das poucas ferramentas disponíveis para estudar a consciência humana.
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Mudar a matéria com a mente

Tal descoberta suscitaria um debate sobre a existência do livre arbítrio. Pode ser que, mesmo que a física governe o mundo material, a mente humana, não sendo feita da mesma matéria, poderia superar a física com o livre arbítrio. "Isso não resolveria a questão, mas certamente teria uma forte influência na questão do livre arbítrio," disse Hardy.

Nicolas Gisin, da Universidade de Genebra (Suíça), acha que a proposta de Hardy faz "muito sentido", mas ele é cético em relação ao uso de sinais EEG não-estruturados para alterar as configurações dos aparelhos de medição. Isso é semelhante a usar o cérebro como um gerador de números aleatórios. Gisin diz preferir ver um experimento onde a intenção consciente dos humanos seja usada para realizar a mudança - mas isso seria experimentalmente mais difícil.

De qualquer maneira, ele quer ver o experimento feito. "Há uma enorme probabilidade de que nada especial aconteça, e que a física quântica não mude," disse Gisin. "Mas se alguém fizer o experimento e obtiver um resultado surpreendente, a recompensa é enorme. Seria a primeira vez que nós, como cientistas, poderíamos colocar nossas mãos nesse problema corpo-mente, ou problema da consciência".

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