Experiências intensamente vívidas
Uma nova pesquisa sobre a incidência das experiências de quase morte (EQM) em pacientes internados em unidades de cuidados intensivos revela que 15% deles relataram ter tido uma EQM.
São raros estudos prospectivos de alta qualidade sobre EQM, como este, feito apenas em pacientes internados em UTIs com etiologias homogêneas, como parada cardíaca ou sobreviventes de traumatismos.
Esta foi a proposta de Anne-Françoise Rousseau e colegas das universidades de Liège (Bélgica) e de Laval (Canadá), que analisaram 126 participantes adultos que permaneceram por tempo superior a 7 dias na UTI - todos foram entrevistados após terem tido alta.
Nessa amostra, 19 pacientes (15%) relataram ter vivenciado uma EQM conforme identificada pela escala desenvolvida pelo professor Charles Bruce Greyson, da Universidade da Virgínia (EUA), que caracteriza uma experiência de quase morte como "intensamente vívida e muitas vezes transformadora de vida, que ocorre frequentemente sob condições fisiológicas extremas".
Os participantes foram ainda avaliados quanto a experiências dissociativas, espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais, bem como quanto a dezenas de parâmetros médicos. Um ano depois, foram contatados por telefone para avaliar sua qualidade de vida, com recurso a um questionário que abarca cinco dimensões da qualidade de vida.
Parâmetros cognitivos e espirituais
Os pesquisadores contam que, além de uma incidência de EQM de 15%, os parâmetros cognitivos e espirituais superaram os parâmetros médicos como preditores da emergência de uma EQM.
Enquanto as análises univariadas associaram a ventilação mecânica, sedação, analgesia, motivo de internamento, disfunção orgânica primária, propensão para estados dissociativos e para a espiritualidade à emergência da EQM, a análise de regressão logística multivariada indicou apenas a maior propensão para sintomas dissociativos e um maior bem-estar espiritual e pessoal como fatores potenciadores da EQM.
A avaliação um ano depois demonstrou que a EQM não foi significativamente associada à qualidade de vida.
Apesar de reconhecerem que são necessários mais estudos para confirmar os resultados obtidos em grupos maiores ou em sobreviventes de um internamento mais curto, os autores concluem que "a recordação de uma EQM não é tão rara na UTI". Tendo em conta que as EQM "são tipicamente relatadas como transformadoras e podem estar associadas a emoções negativas, consideramos clinicamente relevante entrevistar os pacientes sobre qualquer memória potencial ao acordarem," concluiu a equipe.
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