08/03/2012

Exercício reduz vontade de jogar em jogadores compulsivos

Com informações da Agência USP

Fissura

A prática de atividade física reduz a vontade de jogar - a chamada fissura - dos pacientes diagnosticados como jogadores patológicos.

Na Faculdade de Medicina da USP, um programa de exercícios aplicado pela professora Daniela Lopes também conseguiu diminuir de forma significativa os sintomas de ansiedade e depressão, muito comuns entre os jogadores patológicos.

"Todos [os pacientes] tinham mais de 18 anos, com média de idade de 47 anos, e não apresentavam patologia clínica que contra-indicasse a prática de atividade física", afirma Daniela. "A maioria fazia uso de medicação, principalmente anti-depressivos e estabilizadores de humor".

O tratamento normal desses pacientes dura de 12 a 15 semanas e inclui atendimento médico (consultas mensais ou bimestrais) e psicoterápico (sessões semanais). Em média, são recebidos seis novos pacientes por mês no hospital da USP, e aproximadamente 30 se encontram em atendimento psicoterápico.

Exercícios contra o vício do jogo

Durante dois meses, duas vezes por semana, os pacientes eram reunidos para fazer alongamento e exercícios aeróbicos - caminhada ou corrida leve - num total de 50 minutos de atividade física supervisionada por Daniela.

Antes e depois de cada sessão, era feita a medição da fissura, que indicava a vontade de jogar que o paciente apresentava naquele momento.

"Essa medição também foi feita antes do programa de atividade física começar, e após seu encerramento, por meio de uma tabela com uma escala onde o paciente indicava sua vontade de jogar, para verificar a evolução do nível crônico de fissura", diz a professora.

Na medição antes das sessões de exercícios, a fissura diminuiu de 2,3 para 0,9. Na verificação após a atividade física também houve queda, de 0,8 para 0,1.

"A motivação para os exercícios faz com que o nível de fissura seja baixo, ou seja, o desejo de jogar é menor", afirma Daniela. "O resultado ainda é mais relevante se for levada em conta a fissura sete dias antes do exercício apontada pelos pacientes, que caiu de 16,2 para 5,9".

Escala de Comportamento do Jogo

Os pacientes também foram avaliados por meio da Escala de Comportamento do Jogo, que inclui os fatores jogo (sua prática propriamente dita), problema social e desgaste (estresse emocional).

"Na soma desses fatores, um número menor que 29 significa um quadro de jogo patológico e uma soma maior que 33 representa remissão completa", explica Daniela. "Com o programa de atividade física, conseguimos fazer os pacientes avançarem na escala de 28 para 38, eliminando o diagnóstico de jogo patológico."

Os sintomas de depressão foram avaliados por meio de um questionário com 21 perguntas, cujo resultado varia entre zero e 63 pontos.

"Os pacientes com escores acima de 21 pontos possuem depressão clinicamente diagnosticada", aponta a professora. "Com os exercícios, o índice médio foi reduzido de 23 para 10 pontos, o que representa uma redução significativa nos sintomas de depressão."

No caso da ansiedade, avaliada de acordo com critérios similares aos da depressão, a melhora também foi relevante: "A média caiu de 21 pontos, o que representa um quadro significativo de ansiedade, para 10, 9 pontos, ou seja, sem sintomas diagnosticáveis."

Biologia do jogo

Durante a pesquisa também foram realizadas medições biológicas, envolvendo os níveis de prolactina (relacionada a presença de dopamina no sistema nervoso central, que influencia a vontade de jogar) e cortisol (ligado ao estresse).

"Para ambas as substâncias não se verificou alterações relevantes", observa Daniela, "no entanto, a amostragem é pequena para ser conclusiva, já que apenas 18 pacientes aceitaram fazer estes exames."

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