Em 2009, em meio à pandemia de gripe A (H1N1) (chamada inicialmente de gripe suína), vários governos - entre eles o brasileiro - gastaram bilhões de dólares na compra de um remédio que, segundo um novo estudo, não seria mais eficiente do que um analgésico comum.
Segundo uma análise da Cochrane Collaboration, uma rede independente e global de pesquisadores e profissionais de saúde, o medicamento antiviral tamiflu (oseltamivir) não evita a disseminação da gripe e nem reduz as complicações perigosas da doença, apenas ajudando a aliviar sintomas.
No combate ao vírus H1N1, o medicamento não seria mais eficaz do que o paracetamol, o analgésico mais popular em vários países.
A Roche, fabricante do tamiflu, afirma que a análise do Cochrane Collaboration apresenta falhas. Contudo, estudos anteriores, além de afirmarem que os efeitos do Tamiflu eram incertos, acusaram a Roche de não divulgar dados que permitiriam uma avaliação mais acurada dos efeitos do medicamento.
No Brasil, o Ministério da Saúde gastou R$ 400 milhões comprando uma quantia de tamiflu suficiente para 14,5 milhões de pessoas. Segundo o ministério, foram adotados critérios técnicos "que levaram em conta a previsão de 10% da população brasileira", e o tamiflu era o tratamento recomendado "para casos graves e pessoas com fatores de risco".
O que os dados do novo estudo indicam, entretanto, é que o tamiflu não cumpre esse papel, apenas aliviando os sintomas da gripe A.
Segundo o documento, o medicamento reduziu a persistência dos sintomas da gripe A de sete dias para 6,3 dias em adultos, e para 5,8 dias em crianças. Mas, os autores do relatório dizem que remédios como o paracetamol poderiam ter um efeito semelhante.
Especialistas não envolvidos no estudo afirmam que essa redução é "importante", embora não endossem diretamente a forma como os gastos foram feitos na aquisição e estocagem do remédio.
O grupo Cochrane questiona também as alegações de que o tamiflu evitava complicações como o possível desenvolvimento da pneumonia, dizendo que os testes foram precários e que não foi possível detectar um "efeito visível" neste sentido.
Outro argumento usado para defender a estocagem do tamiflu foi o de o remédio diminuía a velocidade com que a doença se espalhava, para dar tempo aos cientistas para o desenvolvimento de uma vacina.
Os autores do relatório afirmaram que "este caso simplesmente não foi provado" e que "não há uma forma confiável de estes medicamentos evitarem uma pandemia".
A análise também afirmou que o tamiflu tem uma série de efeitos colaterais, incluindo náuseas, dores de cabeça, eventos psiquiátricos, problemas renais e hiperglicemia.
Outro estudo já havia indicado que o tamiflu pode induzir resistência ao novo vírus da gripe H7N9.
Pesquisadores brasileiros eventualmente poderão realizar um estudo de base nacional, uma vez que, na época do alerta de pandemia da gripe A a Anvisa determinou que todos os pacientes que usassem Tamiflu deveriam ser monitorados.
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