22/10/2018

Estimulação magnética transcraniana é mesmo eficaz contra depressão?

Redação do Diário da Saúde
Estimulação magnética transcraniana é mesmo eficaz contra depressão?
A técnica é indolor e não-invasiva.
[Imagem: Cortesia Drexel University/John Medaglia]

Magnetismo contra depressão

A técnica de estimulação magnética transcraniana tem sido explorada no tratamento da depressão, mas os resultados têm sido inconsistentes.

Pesquisadores portugueses demonstraram agora que a variação nos resultados pode se dever à duração da terapia, com sessões de manutenção aumentando a duração da resposta antidepressiva, o que dá fundamento à chamada estimulação magnética transcraniana repetitiva (rTMS na sigla em inglês).

"Quanto tempo é que o doente vai estar bem? Já foram feitas tentativas para responder a esta pergunta, mas esta é a primeira vez que alguém faz uma análise global, sistemática - uma 'meta-análise' - dos dados mais fiáveis," explicou Gonçalo Cotovio, da Unidade de Neuropsiquiatria do Centro Champalimaud, em Lisboa.

Com base em 18 estudos (correspondentes a um total de 732 pacientes), Cotovio e seus colegas concluíram que, três meses após o fim do tratamento inicial, cerca de 70% dos pacientes que tinham melhorado com o tratamento "continuava bem", ou seja, mantinham critérios de resposta ao tratamento.

Seis meses depois (com esses mesmos 18 estudos e 695 pacientes), essa percentagem caía para cerca de 50%. Por fim, apenas nove estudos incluíam o acompanhamento durante um ano, para um total de 247 pacientes. Para este grupo, em 46% dos pacientes com resposta ao tratamento inicial, o efeito antidepressivo da rTMS durou até o fim desse período.

Mas por que que certos pacientes se mantêm livres dos sintomas durante mais tempo do que outros? Um dos potenciais fatores diferenciadores identificado pela equipe foi que, em alguns deles, após o tratamento inicial, os pacientes tinham tido sessões de "manutenção" (cuja frequência variava entre várias vezes por semana e uma vez por mês).

Os cientistas decidiram portanto ir mais longe, comparando os dois grupos - com e sem manutenção. Após três meses de acompanhamento, no grupo que tinha recebido tratamento de manutenção (383 pacientes de oito estudos), o número de pacientes sem recidiva era quase 36% superior ao do grupo que apenas tinha recebido o tratamento inicial (349 pacientes de oito estudos). E, aos seis meses, a importância da manutenção revelou-se ainda maior entre os pacientes que tinham tido manutenção (417 de 10 estudos) e os que não tinham tido (278 pacientes de oito estudos). Os estudos não tinham dados suficientes para fazer a avaliação após 12 meses.

Estimulação magnética transcraniana contra depressão

A rTMS é uma técnica não invasiva e indolor indicada no tratamento de pacientes com depressão que não respondem aos medicamentos químicos, ou antidepressivos. Existem diferentes protocolos de tratamento com rTMS mas, como explica Gonçalo Cotovio, "todos eles têm um padrão comum: um mínimo de 20 sessões, ao ritmo de uma por dia".

Durante cada sessão, que dura cerca de 40 minutos, a bobina de rTMS, semelhante a uma grande colher com a concha em forma de "oito" é encostado ao crânio da pessoa por um técnico. A máquina de rTMS induz um campo magnético em volta da bobina devido à passagem de corrente elétrica. Quando próximo ao cérebro, esse campo magnético induz correntes elétricas no tecido nervoso, de uma forma totalmente não invasiva e indolor.

A parte do cérebro estimulada pela rTMS é o córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL) esquerdo - uma área que fica na parte da frente da cabeça. É esse ponto do crânio que se pensa ser o local onde a rTMS deverá produzir o maior efeito antidepressivo. Isto porque o CPFDL comunica preferencialmente com uma outra área cerebral mais profunda, chamada córtex cingulado subgenual - que, ao que tudo indica, tem uma relação importante com a ocorrência de sintomas depressivos.

Quanto à importância das sessões de manutenção da estimulação magnética transcraniana repetitiva, "ainda terão de ser realizados muitos estudos para analisar os tratamentos de manutenção de forma sistemática e controlada," disse o professor Albino Oliveira Maia, coordenador do estudo. "Mas o que podemos afirmar, com base nos nossos resultados, é que, entre os pacientes que melhoram com a rTMS, será aconselhável propor tratamento de manutenção - e esta é a primeira vez que se obtém um resultado claro nesse sentido".

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