Esquecer o bebê no carro
Todos ficamos chocados com os traumáticos eventos de crianças que morrem por terem sido esquecidas por seus pais dentro do carro sob o Sol - só nos EUA, foram quase 500 casos nos últimos 20 anos.
Por mais tétrico que seja, apresentadores de programas sensacionalistas exploram largamente esses eventos trágicos, rapidamente apontado o dedo acusador contra os pais ou cuidadores que esqueceram a criança.
Mas será que esse é um evento do tipo "criminoso" ou é algo a que todos nós estamos sujeitos?
Um trio de pesquisadores de Universidade de Notre Dame (EUA) queria achar uma resposta para esta questão.
Para isso, os psicólogos idealizaram um experimento para entender melhor esse lapso na chamada memória prospectiva, que é a capacidade de lembrar comportamentos críticos, mas rotineiros, como desligar o forno quando você sai de casa.
Como não é possível reproduzir a situação usando pessoas reais, os pesquisadores tiveram uma ideia criativa: Usar os "bebês mais queridos" dos estudantes - seus telefones celulares.
Meu bebê celular
A equipe projetou um procedimento naturalístico para medir se e como os estudantes universitários poderiam esquecer seus celulares, algo ao qual a maioria é muito apegada, e que poderia ter sérias consequências para eles se fosse perdido - seus "bebês", por assim dizer.
Os 192 estudantes entravam em uma sala para cumprir uma tarefa sem qualquer relação com memória ou com celulares. Mas, ao entrar, eles precisavam deixar seus celulares devidamente etiquetados e guardados.
Os estudantes também receberam rastreadores para prender na parte de trás da cintura, para que fosse possível localizar rapidamente os esquecidos. Metade deles foi lembrado de pedir o celular e devolver o rastreador quando terminasse a tarefa, enquanto a outra metade não recebeu o alerta.
Bastou então examinar a frequência com que os alunos se esqueciam de pegar o telefone quando saíam e verificar a qual grupo cada um dos esquecidos pertencia (com o alerta ou sem o alerta prévio).
Sim, pode acontecer com você
Cerca de 7% dos alunos que não foram alertados antes esqueceram seus celulares, em comparação com cerca de 5% daqueles que foram alertados. Quase 18% de ambos os grupos se esqueceu de devolver o rastreador.
A conclusão é muito clara: Erros de memória prospectiva podem acontecer com qualquer pessoa, mesmo quando isso envolve a perda de algo precioso. Os esquecimentos aconteceram em igual proporção entre mulheres e homens.
Segundo a equipe, o esquecimento ocorre quando as pistas ambientais não são suficientes ou adequadas para desencadear, no momento certo, a memória da intenção inicial, e a intenção se perde nesse embaralhamento.
"Você processa as pistas mais automaticamente, então pode se perder em seus pensamentos porque seus comportamentos estão sendo conduzidos pelo ambiente. Não é que você se esqueça do que deveria estar fazendo; você está apenas se esquecendo de fazê-lo no momento apropriado," disse o professor Nathan Rose.
Esquecimento fora da rotina
Da mesma forma que os alunos perderam as dicas ambientais para lembrá-los de pegar o telefone ou devolver o rastreador, o mesmo acontece com os pais que estão dirigindo para o trabalho ou rodando por aí com um bebê no banco de trás, teorizaram os pesquisadores.
Antes que as leis fossem estabelecidas na década de 1990 exigindo que as cadeirinhas fossem colocadas voltadas para trás no banco de trás, esquecer bebês em carros era incomum - essa legislação visa proteger o pescoço dos bebês em caso de impacto.
"A ausência de sinais visuais e auditivos salientes de uma criança que está dormindo no banco de trás cria um cenário propício para esquecer que a criança está no carro," escreveram os pesquisadores.
Ou, acrescentou Rose, se um dos pais está levando uma criança no carro, mas normalmente não é o cuidador que faz essa atividade, e ele ou ela entra na rotina e estabelece um padrão de dirigir para o trabalho, é mais provável esquecer que a criança está ali.
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