24/03/2012

Epigenética começa nova busca por genes ligados ao câncer

Redação do Diário da Saúde
Epigenética começa nova busca por genes ligados ao câncer
A equipe elaborou um programa que consegue rastrear um genoma inteiro em busca de genes específicos afetados pelas proteínas epigenéticas, o que promete acelerar muito as pesquisas sobre o câncer.
[Imagem: Univ.Rice]

Tabuleiro vazio

O câncer é geralmente atribuído a genes defeituosos, mas evidências da epigenética indicam que as proteínas que silenciam genes desempenham um papel fundamental no processo.

Um novo estudo promete acelerar as pesquisas na área identificando rapidamente os genes que as proteínas epigenéticas podem ter como alvo para silenciamento.

"A epigenética do câncer é um campo novo, e ainda estamos lidando com o básico," diz o Dr. Jianpeng Ma, professor de bioengenharia da Universidade Rice (EUA).

"É algo como um tabuleiro de jogo. Até agora, nós entendemos algumas das regras e vimos algumas das peças, mas o tabuleiro do jogo propriamente dito está praticamente vazio," diz ele.

Alterações epigenéticas

Enquanto muitos cânceres têm sido associados a mutações na sequência do DNA de genes específicos, as alterações epigenéticas não envolvem mutações genéticas.

Em vez disso, a epigenética permite que duas células com sequências de DNA idênticas se comportem de maneiras completamente diferentes.

As proteínas epigenéticas efetivamente editam o genoma, desligando genes que não são necessários.

Esse processo de edição é o que permite aos seres humanos terem células especializadas - como as células nervosas, células ósseas, células do sangue etc. - que têm aparência e comportamento diferentes, ainda que compartilhem o mesmo DNA.

Proteínas epigenéticas

Os principais "jogadores" epigenéticos nesse tabuleiro do câncer a que o pesquisador se refere são uma família de proteínas chamadas PcG (polycomb-group).

As PcGs são encontradas bem no interior do núcleo das células, em uma câmara onde o DNA é armazenado.

Estudos descobriram níveis anormalmente elevados de PcGs em algumas das formas mais agressivas de câncer de mama e de próstata.

As PcGs são generalistas, que podem ser chamadas para silenciar qualquer um dentre várias centenas a vários milhares de genes.

Elas são recrutadas para essa tarefa pelos PREs (polycomb response elements), segmentos de DNA que estão localizados nas proximidades dos genes das proteínas que serão a seguir silenciados.

E é aqui que o tabuleiro fica em branco.

Preditor epigenético

Embora os cientistas saibam que existem literalmente centenas de milhares de potenciais PREs em qualquer genoma - incluindo tudo, desde simples insetos até os seres humanos - apenas uns poucos deles foram encontrados até agora.

"Até agora, apenas dois PREs foram verificados experimentalmente em mamíferos - um em camundongos e um em humanos," diz Jia Zeng, pesquisador da Universidade de Baylor."Nós suspeitamos que há muitos deles, mas encontrá-los tem sido difícil."

"Um dos maiores desafios desde a conclusão do Projeto Genoma Humano é como garimpar informações úteis da enorme quantidade de dados genômicos," diz Ma.

Mas eles parecem estar no caminho certo, desenvolvendo um novo programa de computador, chamado EpiPredictor, que "digere" os dados do genoma e devolve alvos potenciais para a validação experimental.

No exemplar deste mês da revista científica Nucleic Acids Research, a equipe mostra que o programa consegue identificar com precisão genes específicos afetados pelas proteínas epigenéticas.

Agora é só ter paciência e testar cada um dos resultados, em busca de novos alvos para atuação contra o câncer - ficará mais fácil jogar assim que o tabuleiro estiver com todas as peças, garantem os cientistas.

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