Induzido a ficar doente
Todos conhecem bem o efeito placebo, o sugestionamento positivo induzido nas pessoas que acreditam estar tomando um medicamento ativo.
Muito menos conhecido é o efeito nocebo.
O efeito nocebo, ou reação nocebo, cobre os eventos adversos que ocorrem como um resultado de expectativas negativas sobre um tratamento ou medicamento.
O mecanismo é bem documentado quando voluntários recebem um placebo ao qual é atribuído o risco de determinados efeitos colaterais negativos - e as pessoas desenvolvem de fato esses efeitos.
Em linhas gerais, o efeito nocebo é definido como uma sugestão negativa capaz de induzir os sintomas de uma doença.
Na prática, o caso mais comum é o de uma pessoa que toma um medicamento e, ao tomar conhecimento dos riscos de efeitos colaterais do medicamento, passa a apresentar esses efeitos.
Estudos sobre efeito nocebo
Enquanto sua contraparte positiva - o efeito placebo - tem sido intensamente estudada nos últimos anos, a literatura científica é escassa sobre fenômenos do tipo nocebo.
As respostas nocebo podem ser provocadas por sugestões negativas não intencionais por parte de médicos e enfermeiros - por exemplo, ao informar o paciente sobre as possíveis complicações de um tratamento a que ele deverá ser submetido.
No estudo mais recente sobre o tema, a equipe do Dr. Winfried Hauser, da Universidade Técnica de Munique (Alemanha) apresentou alguns mecanismos neurobiológicos subjacentes ao fenômeno.
Os pesquisadores também destacaram a importância do efeito nocebo, que tem efeitos na prática clínica diária maiores do que geralmente se admite.
Dilema ético
Os pesquisadores destacam que o risco da indução do efeito nocebo pode colocar os médicos e outros profissionais de saúde ante um dilema ético.
Isso ocorre porque os profissionais ficam divididos entre a sua obrigação de informar o paciente sobre os possíveis efeitos colaterais de um tratamento ou medicamento, e seu dever de minimizar o risco de uma intervenção médica - e, portanto, evitar desencadear o efeito nocebo.
Como uma estratégia possível para resolver esse dilema, Hauser e seus colegas sugerem que os médicos enfatizem a "tolerabilidade" das medidas terapêuticas - uma espécie de relativização dos riscos de efeitos colaterais.
Outra opção - mas isso exigiria a concordância do paciente - seria não discutir os riscos de efeitos colaterais durante as consultas.
Soluções animais
Ou seja, não parece haver uma solução definitiva, e nem ao menos razoável, para o risco do efeito nocebo, assim como não há formas conhecidas de evitar o efeito placebo, que muitas vezes influi também na aprovação de medicamentos que podem não ter os efeitos esperados.
Um primeiro passo nesse sentido seria abrir mão das explicações tipo "condicionamento de Pavlov", que consideram os pacientes no mesmo nível intelectual e emocional dos animais - que esses pacientes pouco mais fariam do que repetir comportamentos "aprendidos", ou condicionados.
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