Falar sobre saúde mental e suicídio
Falar sobre saúde mental, depressão, ansiedade e suicídio exige cuidados, mas isso não deve representar um empecilho a que o assunto seja abordado, sobretudo em um cenário de crescimento dos casos de autolesão em todo o mundo.
De acordo com pesquisadores, existem estigmas e pouca compreensão da sociedade em relação a essas questões, com frequência dando margem a visões preconceituosas.
"Faltam redes humanas de apoio, as pessoas vivem mudanças na configuração dos relacionamentos e tudo isso pode criar uma sensação de que você vive aquele sofrimento sozinho. Por isso, uma das apostas que fazemos em nosso atendimento preventivo é na expressão. Até para que se possa falar também das coisas ruins. Nas redes sociais, em geral, as pessoas falam das coisas maravilhosas. E é importante falar mais amplamente sobre os sentimentos," disse Laura Quadros, chefe do Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Para Laura, o aumento das ocorrências, sobretudo entre a população mais jovem, coloca o suicídio como uma emergência médica. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa é uma tendência em todo o mundo. Estimativas do órgão apontam que, depois da violência, o suicídio é o fator que mais mata jovens entre 15 e 29 anos. Anualmente, mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida, número que representa 1,4% de todas as mortes no mundo.
Os adolescentes e jovens são mais suscetíveis aos problemas emocionais e transtornos mentais porque essa fase da vida carrega muita expectativa e insegurança em relação ao futuro. Para Laura Quadros, o mundo atual cobra uma urgência pelo sucesso, e as tensões e pressões são mais exacerbadas: "Em um mundo mais lento, talvez conseguíssemos entender que esperar é um das possibilidades. Mas não é o que ocorre hoje.".
Efeito Werther
Há um consenso entre psicólogos e psiquiatras sobre a importância de que as abordagens de prevenção tenham como objetivo o estímulo a um ambiente favorável para que o jovem possa falar sobre seus sofrimentos com pessoas próximas e com profissionais capacitados.
A imprensa e outros meios de comunicação têm um papel importante no assunto, relata Arthur Dapieve, que publicou em 2007 o livro Morreu na Contramão: o Suicídio Como Notícia. Em sua pesquisa, ele buscou entender porque raramente se noticiam casos de suicídio. "O volume de notícias contrastava com as estatísticas. Os jornais não demonstram medo em noticiar o homicídio ou o estupro, por exemplo. Mas o que eu observei é que a questão não é intrínseca à imprensa. A nossa sociedade tem um tabu em relação ao assunto. E a mídia, muitas vezes, reflete o que a sociedade pensa," relatou o pesquisador.
Dapieve, que também é jornalista, destaca uma preocupação específica da imprensa, relacionada ao chamado "Efeito Werther", um pico de tentativas de suicídios após um caso ser amplamente divulgado - a expressão tem como referência o livro Os Sofrimentos do Jovem Werther, escrito pelo autor alemão Goethe no final do século 18.
"É uma história de amor não correspondida onde o protagonista se suicida. Isso teria deflagrado uma onda de suicídios na Europa. Esse medo é ainda presente na imprensa. Acho que não mudou muito de lá para cá, mas vejo que tem havido mais noticiário e inclusive reportagens no sentido de tentar entender as razões, prevenir. E isso é positivo".
A importância da existência de um noticiário sobre o assunto é consenso entre psicólogos e psiquiatras. Essa é também a posição da Organização Mundial da Saúde (OMS) que avalia que a imprensa tem papel fundamental e ativo na prevenção ao suicídio.
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