Vírus nunca vistos em humanos
Duas novas espécies de vírus foram identificadas no sangue de pacientes que apresentavam sintomas considerados indicativos de dengue ou zika, como febre, dor de cabeça e manchas avermelhadas na pele.
Um dos microrganismos pertence ao gênero Ambidensovirus e foi encontrado em um paciente do Amapá. O outro, presente em uma amostra de um paciente do Tocantins, pertence ao gênero Chapparvovirus.
"O que mais nos surpreendeu foi encontrar em amostra humana um Ambidensovirus. Espécies desse gênero só haviam sido descritas em insetos, crustáceos e outros invertebrados, nunca em mamíferos," contou Antônio Charlys da Costa, da USP (Universidade de São Paulo) e um dos autores do estudo.
No caso dos Chapparvovirus, espécies diferentes já haviam sido encontradas em mamíferos, mas também nunca em humanos.
Potencial de causar doenças
Ainda não é possível saber se esses vírus estão causando doenças. "Ainda não é possível, porém, saber se esses microrganismos estavam ativos no organismo ou se foram os causadores dos sintomas," disse Antônio Charlys.
Para isso será necessário investigar se os novos vírus estão presentes em outras pessoas das respectivas regiões ou em outras populações, bem como se há risco de disseminação. Além disso, tentativas de infecção de células humanas em laboratório com os novos vírus ainda não deram resultados.
"Até o momento, não há evidências de que esses vírus tenham se espalhado ou de que sejam patogênicos. Mas é cientificamente interessante encontrar um Ambidensovirus em hospedeiros humanos. Essa descoberta reflete o quão pouco sabemos sobre a capacidade que os vírus pouco estudados têm de infectar diferentes tipos de células," disse o professor Eric Delwart, do Instituto de Pesquisas Vitalant, membro da equipe.
Diversidade viral
A equipe analisou até agora 781 amostras coletadas entre 2013 e 2016. Em 80% delas foi identificada a presença do gênero Anellovirus (sem doença atribuída), 19% continham o HPgV-1 (conhecido como Pegivirus Humano do tipo 1 e também sem doença relacionada) e 17% deram positivo para o parvovírus B19, causador de eritema infeccioso, quadro comum em crianças, caracterizado por febre leve e erupção vermelha no rosto, braços, pernas e tronco.
Somente em duas amostras foram encontradas as espécies virais nunca antes descritas, ambas pertencentes à família Parvoviridae.
A equipe continua o estudo, analisando as mais de 20 mil amostras que já receberam de diversas regiões brasileiras. O objetivo do projeto é descrever a diversidade viral que existe no Brasil e identificar espécies que podem estar causando doença em humanos e passam despercebidas em meio a surtos de arboviroses.
Metagenômica
A identificação das novas espécies foi possível graças a uma técnica conhecida como metagenômica, que permite sequenciar concomitantemente todo o material genético - de variados organismos - contido em uma amostra de sangue, de urina, de fezes ou de saliva.
Depois que todos os ácidos nucleicos da amostra são extraídos e sequenciados, os pesquisadores usam ferramentas de bioinformática para comparar os resultados com sequências genômicas já conhecidas, descritas em bancos de dados.
Por esse método também é possível, por exemplo, estudar todas as bactérias e fungos do solo de uma região ou mapear as diferentes espécies que compõem a microbiota intestinal de um indivíduo.
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