O Diário da Saúde está publicando uma discussão levantada por especialistas que questionam a forma como a prevenção do câncer, sobretudo do câncer de mama, está sendo abordada pela imprensa no mundo todo.
Parte I: As Celebridades e as Mamografias
Parte II: Quando a prevenção vira risco
Parte III: Celebridades ignoram a Ciência
Parte IV: Repensar o uso da palavra câncer
Neste segundo artigo, as doutoras Gemma Jacklyn e Alexandra Barratt discutem como a ciência está sendo ignorada nas campanhas de rastreio do câncer.
Riscos do rastreio do câncer de mama
Em geral, as pessoas são entusiásticas com a prevenção do câncer porque elas estão despreparadas para o que acontece se for detectada alguma anomalia.
O paradoxo do rastreio é o seguinte: um resultado anormal poderia nos salvar, mas também pode nos prejudicar.
O problema mais comum experimentado por mulheres rastreadas é um resultado falso positivo, quando um exame levanta a suspeita de câncer, mas nenhum câncer é encontrado nos exames seguintes. Lisa Wilkinson é outra celebridade que passou por isso depois de sua mamografia no ar.
Se uma mulher faz uma mamografia a cada dois anos por 20 anos, há uma chance de 41% de que ela vai experimentar pelo menos um resultado falso positivo. Isso é quase uma em cada duas mulheres. Essas mulheres saudáveis vão então passar por novos exames para determinar que elas de fato não têm câncer.
Elas podem sofrer danos psicológicos muito tempo após o susto inicial do resultado falso positivo. Este dano inclui ansiedade e um estado de espírito em algum lugar entre as mulheres com uma mamografia normal e aquelas com um diagnóstico de câncer de mama.
O perigo do excesso de diagnósticos
A questão mais difícil para qualquer uma envolvida com os exames preventivos de câncer de mama é o diagnóstico exagerado, ou sobrediagnóstico.
As mulheres que são diagnosticadas com câncer de mama por meio da triagem (como Amy Robach) acreditam que a mamografia salvou sua vida. Às vezes isso é verdade. Infelizmente, é mais provável que seja falso, e essas mulheres podem ter sido realmente hiperdiagnosticadas.
Sobrediagnóstico é quando a mamografia detecta pequenos cânceres que, se deixados quietos, não causam quaisquer sintomas e menos ainda a morte. Mulheres que se submetem à triagem a cada dois anos por 20 anos têm três vezes mais probabilidade de serem sobrediagnosticadas do que ter sua vida salva.
Este conceito é contraditório porque está em desacordo com a nossa compreensão geral do câncer como uma doença terrível. Ou seja, nós estamos acostumados a pensar em termos do câncer de mama como uniformemente letal se não tratado.
Mas os estudos mostram cada vez mais que encontrar cânceres minúsculos não se traduz necessariamente em salvar vidas.
Enquanto as estimativas de sobrediagnósticos são incertas, o padrão é claro. Pesquisas feitas nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália mostram que é mais comum para as mulheres serem hiperdiagnosticadas do que terem suas vidas salvas pelo rastreio.
Isso não seria um problema tão grande se o tratamento do câncer de mama fosse fácil, digamos, um comprimido ou uma injeção com poucos efeitos colaterais. Mas o tratamento é complexo e difícil: cirurgia, radioterapia, quimioterapia e drogas contra o câncer são física e psicologicamente prejudiciais.
Então essas mulheres hiperdiagnosticadas são prejudicadas devido ao excesso de tratamento - elas recebem tratamento para um câncer que não precisa ser cuidado.
No terceiro artigo da série, que será publicado amanhã, as pesquisadoras discutem como a ciência está sendo ignorada nas campanhas de rastreio do câncer.
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