Medo do dentista
Praticamente dez entre dez pessoas têm medo de ir ao dentista.
Isto ocorre porque, nos últimos 50 anos, a remoção de cáries, doença que afeta mais de 95% da população mundial, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, tem sido realizada por meio de brocas rotativas que causam dor, estresse por ruído, tensão e lesões na gengiva.
Além disso, o uso de agulhas para aplicação de anestesia também é motivo de pavor para muitas pessoas. Em consequência disso, muitos pacientes literalmente fogem do dentista, prejudicando a própria saúde com doenças bucais que vão de uma simples dor de dente até mesmo tumores malignos e outros problemas dentais.
Em busca de uma forma de solucionar esses problemas, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) desenvolveram, o único sistema produzido no País - e em toda a América Latina - para a remoção de cáries e tártaro, que dispensa o uso de brocas e de anestesia, sem o irritante barulho do motor das brocas dentárias, praticamente sem dor e sem incômodos para os pacientes.
Cortina de água
Entretanto, o aparelho ainda apresentava um pequeno incômodo estético para os dentistas: o excesso de poeira liberado em função da remoção das cáries e do tártaro.
Agora, com auxílio da FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), o problema se tornará quase imperceptível.
"Graças ao apoio da Fundação, foi criado um novo protótipo do aparelho, com um sistema de cortina de água capaz de diminuir em 95% a poeira liberada, sem perda da eficiência", explica o idealizador do aparelho e cirurgião-dentista Izio Mazur.
Ele complementa que, até o final de 2010, o modelo definitivo deverá estar pronto para ser comercializado no mercado nacional e até mesmo internacional. A empresa criada para isso, a Superdont, já iniciou os preparativos para certificação internacional, como a normatização ISO 13485, CE e para o FDA, o que dará condições de superar as barreiras técnicas impostas pelos países de Primeiro Mundo. "Agora estamos em busca de fundos de investidores que queiram somar esforços para dividir os lucros futuros", complementa.
Odontologia mais acessível
Para Izio Mazur, as faculdades de Odontologia precisam dar mais valor às técnicas desenvolvidas no País.
Ao verificar que os dentistas em geral ficam muito fechados em seus consultórios e trocam pouca informação, Mazur resolveu criar a Superdont há onze anos e logo depois, o sistema de microabrasão.
Seu objetivo é tornar a odontologia mais acessível e acabar com seus três problemas principais: o alto custo dos materiais, a complexidade dos procedimentos clínicos e a dor que muitos desses procedimentos trazem. "Esses três aspectos têm afastado os pacientes dos consultórios, resultando em índices avassaladores de doenças bucais", destaca.
Microabrasão
No caso das brocas, comumente usadas nos consultórios dentários, é comum entre os pacientes a torcida para que o dentista tenha mão leve.
Já o sistema de microabrasão desenvolvido pela Superdont elimina esse problema, usando um jato de ar que sopra micropartículas de óxido de alumínio - substância abrasiva - com precisão milimétrica, exatamente no ponto onde está a cárie, destruindo o tecido cariado em poucos segundos.
Assim, a força sobre o dente é feita pela regulagem da pressão ajustada na máquina, e não mais pela mão do dentista, como ocorre com as brocas. "Ou seja, com o nosso aparelho, o paciente não precisa mais contar com a sorte, pois todos os dentistas passarão a ter mão leve", comenta o entusiasmado inventor do produto.
Entretanto, ele destaca que embora o aparelho seja capaz de perfurar um dente inteiro e até ossos, trata-se de uma tecnologia totalmente segura, que não requer um treinamento complexo. "O paciente pode ficar tranquilo, pois a sensação é de um leve vento soprando em sua boca", diz.
Equipamento nacional de microabrasão
Comum na maior parte dos consultórios dos Estados Unidos e Europa, o sistema de microabrasão a ar até o momento só existe no Brasil na versão importada e, portanto, com altos custos e inacessível à maioria dos dentistas.
"Enquanto o sistema importado custa em torno de R$ 20 mil, nosso aparelho, com a mesma qualidade, deverá custar cinco vezes menos", afirma Mazur. E prossegue: "As brocas de alta rotação usadas pelos dentistas se desgastam com relativa facilidade e, dependendo da marca e procedência, representam um custo significativo para os profissionais."
Sendo assim, o novo sistema ainda proporciona uma enorme economia, pois dificilmente necessita de manutenção e o consumo de material abrasivo por paciente é baixo. Além disso, também permite maior rapidez no trabalho, já que enquanto algumas remoções de cáries e tártaro pelo método tradicional costumam demorar muito tempo, com o novo equipamento elas podem ser feitas em apenas poucos segundos.
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