21/01/2014

Comediantes psicóticos ou ciência esquizofrênica?

Redação do Diário da Saúde
Comediantes psicóticos ou ciência psicótica?
Os cientistas são engraçados... ou meio loucos. Mesmo quando tentam dizer que isso acontece com os outros.
[Imagem: Wikipedia]

O estereótipo do gênio louco

Os cientistas são engraçados: primeiro eles estabelecem uma curva normal - uma curva estatística em forma de sino - e dizem que todos os que estão na parte central da curva são "normais".

Eles então cortam as extremidades da curva - as bordas do sino - e dizem que quem está nessas extremidades é "anormal".

E depois usam isso para classificar pessoais que fogem aos padrões do trivial, o chamado "cidadão comum".

O problema é que os cientistas pegam as pessoas muito criativas e dizem que, como elas não estão no centro "normal" da sua curva, então elas têm traços "anormais". Daí é um passo para dizerem que, se são "anormais", são psicóticas.

E criam assim o estereótipo dos "gênios loucos", propondo que pessoas que são muito criativas ou geniais têm aspectos de loucura embutidas. Eventualmente isso ajuda a descartar muitas das ideias incômodas desses gênios ou, pelo menos, limitá-las.

É o que parece estar acontecendo agora com um estudo envolvendo comediantes.

Loucuras

Segundo Gordon Claridge e seus colegas da Universidade de Oxford, assim como parece acontecer com outras pessoas criativas, os comediantes têm traços de personalidade ligados à psicose.

Os comediantes tiveram elevada pontuação na medição de características que, em casos extremos - como sempre, aqueles que estão nas extremidades da curva normal - são associadas a doenças mentais.

"Os elementos criativos necessários para produzir humor são incrivelmente similares aos que caracterizam o estilo cognitivo de pessoas com psicose - a esquizofrenia e a bipolaridade,", disse o Dr. Claridge.

Ainda que a psicose esquizofrênica em si prejudique o senso de humor, em uma forma mais branda ela pode aumentar a habilidade da pessoa em associar coisas estranhas ou "pensar fora da caixa", prossegue Claridge.

E traços similares à bipolaridade podem ajudar as pessoas a combinar ideias para formar conexões novas e engraçadas - algo como, se você pensa normalmente, dificilmente conseguirá ser engraçado.

"Comediantes tendem a ser levemente introvertidos, nem sempre querem socializar, e sua comédia é quase uma válvula de escape para isso", propõe Claridge.

Mas isso é o bastante para dizer que comediantes têm traços psicóticos? Ou poderia uma conclusão destas ser classificada como piada ou, quem sabe, como uma loucura branda? Afinal, será que os cientistas também não podem ser classificados "fora da curva"?

"Doenças mentais como esquizofrenia podem afetar qualquer pessoa, seja ela criativa ou não. Nosso entendimento sobre doenças mentais ainda é deficiente, e precisamos de mais pesquisas nessa área," disse Paul Jenkins, presidente da entidade Repensar as Doenças Mentais, que busca ajudar pessoas com esquizofrenia, bipolaridade e outros traços psicóticos a terem melhor qualidade de vida.

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