Pesquisas biomédicas
A pesquisa biomédica brasileira acaba de ganhar o reforço de sete novos laboratórios, dedicados a questões estratégicas em saúde pública, como dengue, leishmaniose, doença de Chagas, infecções hospitalares, doenças degenerativas, desenvolvimento de fármacos e vacinas, ensino e bioinformática.
Os novos laboratórios do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) são fruto de um processo de credenciamento único entre os institutos de pesquisa biomédica do Brasil, que submete os laboratórios do IOC à avaliação de um comitê externo formado por especialistas de renome na pesquisa nacional.
O processo de credenciamento adotado no IOC desde a década de 1990 é inspirado no modelo francês de análise de institutos de pesquisa. Seu objetivo é avaliar o desempenho do laboratório no último quadriênio, a partir de critérios relativos à equipe, produção científica, orientação de estudantes de pós-graduação, entre outros. Encerrado no último mês, o processo de credenciamento levou à manutenção de 64 laboratórios já existentes, à aprovação da fusão de dois laboratórios antigos e da criação de seis novos.
Linhas de pesquisa
Os novos laboratórios contemplam linhas de pesquisa que incluem estudos sobre bactérias ligadas a infecção hospitalar, desenvolvimento de bioprodutos, fármacos e vacinas, filosofia das biociências, morfologia e morfogênese viral, fisiologia de infecções virais e biologia computacional e sistemas.
A diretora do IOC, Tania Araújo-Jorge, destaca que a criação dos novos laboratórios expressa o surgimento de linhas de pesquisa inovadoras no Instituto. "A capacidade de inovação é uma das prioridades do Ministério da Saúde. A maior parte das propostas dos novos laboratórios tem relação com a inovação, com o desenvolvimento tecnológico e com a tradução da pesquisa básica para a sociedade", destaca.
Tania explica que os novos laboratórios são frutos de atividades que já vinham sendo desenvolvidas pelo IOC e cresceram nos últimos anos. "Muitas vezes incubadas em determinados laboratórios, estas linhas de pesquisa já existiam e eram desenvolvidas com um vigor tão forte que puderam se credenciar plenamente. Em outros casos, tivemos a convergência de linhas de pesquisa, resultando na fusão de laboratórios antes separados", explica. "O fortalecimento desses novos grupos simboliza um grande avanço para a saúde pública, pois representa a consolidação de linhas de pesquisa e a produção de conhecimento sobre questões que ainda hoje representam desafios para o sistema de saúde brasileiro."
Competência científica
Segundo a diretora do IOC, o resultado também reforça a excelência do Instituto em diferentes áreas do conhecimento científico. "Fomos avaliados externamente como competentes em 71 campos de atividade. Cada laboratório tem duas ou três linhas de pesquisa, cada linha de pesquisa integra um a cinco projetos. Multiplicando isso, temos em torno de mil projetos de pesquisa em desenvolvimento no IOC por equipes validadas externamente, do ponto de vista da qualidade em pesquisa, inovação e desenvolvimento tecnológico", ressalta. "Além disso, o processo reafirma toda a pluralidade de pesquisa do IOC, que vai da biodiversidade entomológica até o desenvolvimento de vacinas e a discussão sobre ensino de ciências", a diretora completa.
Para Tania, além dos impactos positivos para a saúde pública e para a comunidade científica, a avaliação externa também favorece a transparência em relação ao uso do dinheiro público. "O processo de credenciamento leva à sociedade clareza em relação à boa utilização do dinheiro público e favorece a condição de pleitear os recursos necessários para desenvolver áreas em que somos reconhecidamente competentes", finaliza a diretora.
Novos laboratórios de pesquisa biomédica credenciados
Laboratório de Pesquisa de Infecção Hospitalar
Sob a chefia da pesquisadora Marise Asensi Dutra, o laboratório tem como objetivo realizar pesquisa, desenvolvimento tecnológico, inovação e formação de recursos humanos no estudo de bactérias envolvidas em infecção hospitalar. Suas principais linhas de pesquisa estão relacionadas ao diagnóstico e classificação taxonômica, epidemiologia molecular, estudo de mecanismos de resistência a antibióticos, fatores de virulência e patogenia de bactérias hospitalares e de bactérias resistentes a antimicrobianos em efluente hospitalar. Além disso, realiza a curadoria da Coleção de Cultura de Bactérias de Origem Hospitalar, que integra a Coleção de Bactérias de Interesse em Saúde, e participa da Rede de Monitoramento de Resistência a Antimicrobianos.
Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos
Inovação é a palavra de ordem desse laboratório. Apresenta três linhas de pesquisa principais: inovações em bioprodutos, inovações terapêuticas e de diagnósticos, com bases nutricionais, imunomodulatórias e genéticas; e inovações educacionais e em tecnologias sociais, voltadas para a promoção da saúde. Chefiado pela pesquisadora Tania Araújo-Jorge, apresenta projetos nas áreas de doença de Chagas, dengue, doenças crônicas, degenerativas e genéticas; Bioprodutos; e Educação e Sociedade. Entre seus principais objetivos está o desenvolvimento de plataformas tecnológicas, a avaliação pré-clínica de insumos estratégicos em saúde, e o desenvolvimento tecnológico em fármacos, biofármacos e medicamentos para diversos tipos de doenças. O laboratório também se dedica à produção de materiais educativos e ao desenvolvimento de tecnologias sociais que integram ciência, arte, saúde e alegria.
Laboratório de Avaliação em Ensino e Filosofia das Biociências
Tem como objetivo realizar pesquisa e formação de recursos humanos na área de filosofia e ensino de biociências. Suas áreas de atuação envolvem a avaliação de programas de ensino formal e não-formal de biociências e o estudo das aplicações e desdobramentos da teoria darwinista no Brasil. O laboratório chefiado pelo pesquisador Ricardo Francisco Waizbort apresenta projetos que visam avaliar o aprendizado de alunos de ensino médio em jornadas científicas, elaborar estratégias de ensino que busquem apresentar conhecimento cientificamente atualizado sobre temas relevantes para a saúde e investigar até que ponto a teoria da evolução pode ajudar a equacionar soluções para problemas humanos, incluindo problemas de saúde.
Laboratório de Morfologia e Morfogênese Viral
Chefiado pela pesquisadora Monika Barth, o laboratório realiza estudos morfológicos e ultra-estruturais de vírus e da resposta celular à infecção viral, além do diagnóstico rápido de viroses e outros infecções. Entre os projetos que desenvolve estão o estudo da interação vírus-célula hospedeira, a pesquisa de modelos animais para candidatos a vacinas e fármacos contra o vírus da dengue, o estudo da morfologia de pólen causador de alergias e estudos relacionados a mecanismos de infecção, transmissão e ao desenvolvimento de drogas inibidoras de poxvírus.
Laboratório de Biotecnologia e Fisiologia de Infecções Virais
As principais linhas de pesquisa desse laboratório são voltadas para o combate a dengue. Seus projetos incluem o desenvolvimento de vacinas com base em DNA contra a dengue, a avaliação do papel das proteínas na infecção e na patologia da doença, o estudo da resposta imune do organismo e a investigação de diferentes aspectos de infecções virais. Além disso, a equipe chefiada pela pesquisadora Ada Alves realiza estudos de histopatologia em casos fatais de dengue e o desenvolvimento de um modelo experimental murino para a doença.
Laboratório de Biologia Computacional e Sistemas
Chefiado pelo pesquisador Alberto D'Ávila, o laboratório realiza pesquisa, desenvolvimento tecnológico, inovação e formação de recursos humanos na área de bioinformática. Entre os projetos desenvolvidos no laboratório estão a criação de ferramentas e sistemas que permitam a o processamento de grandes quantidades de dados biológicos, bem como a análise da biodiversidade microbiana de diferentes ambientes por meio de técnicas moleculares e de microbiologia, além do estudo da diversidade genética, evolução molecular e genotipagem de tripanossomatídeos.
Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas
Originário da fusão dos laboratórios de Imunopatologia e de Epidemiologia Molecular e Doenças Infecciosas do IOC, o laboratório realiza o estudo de mecanismos fisiopatogênicos e de imunoproteção relacionados a diversas doenças, assim como a avalia estratégias diagnósticas de patologias humanas e estuda seus agentes causais. O foco é em leishmaniose tegumentar americana, na relação parasito-hospedeiro e nos processos imunoregulatórios: resposta imunoprotetora e a caracterização de fatores prognósticos. Chefiado pela pesquisadora Claude Pirmez, alguns dos principais projetos do laboratório abordam o estudo da co-infecção de Aids e Leishmaniose Tegumentar Americana e pesquisas sobre imunoproteção contra leishmaniose. Outros agravos como doença de Chagas, oncocercose, toxoplasmose, giardíase e malária também são estudados.
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