05/05/2022

Criada uma métrica para medir o desenvolvimento cerebral

Com informações da Agência Fapesp
Banco de dados cria métrica para medir o desenvolvimento cerebral
Estudo realizado por grupo internacional, com participação de brasileiros, desenvolveu gráficos que mostram a evolução do cérebro, incluindo expansão e redução ao longo dos anos; no futuro, dados poderão servir para prática clínica.
[Imagem: Eduardo Cesar/Pesquisa FAPESP]

Desenvolvimento do cérebro

Um grupo internacional de cientistas, incluindo brasileiros, reuniu 123.984 exames de ressonância magnética para mapear o desenvolvimento do cérebro humano desde as primeiras semanas do feto até os 100 anos de idade.

Com esse banco de dados, foram montados gráficos que mostram a evolução cerebral ao longo dos anos, incluindo fases de rápida expansão no início da vida, e de redução do tamanho do órgão durante o envelhecimento.

Ao sistematizar os processos de desenvolvimento típico e atípico do cérebro, essa ferramenta poderá funcionar de forma semelhante às atuais tabelas de acompanhamento de medidas de altura e peso de crianças, criando uma métrica para servir como referência para o desenvolvimento cerebral.

A expectativa é que essas curvas de referência possam vir a ter uma aplicação clínica no futuro porque, ao fornecer uma métrica por idade e sexo, a ferramenta permite comparações e poderá apontar caminhos, por exemplo, para identificar distúrbios que surgem em diferentes estágios da vida ou até mesmo alterações cerebrais capazes de sinalizar doenças neurodegenerativas progressivas, como Alzheimer e Parkinson.

"O grande diferencial metodológico da pesquisa foi abrir a possibilidade de montar referências robustas e adequadas que até então não havia. Agora, ao estabelecer essas curvas, com as pontuações e percentis, é possível colocar cada indivíduo e entender como o cérebro está se desenvolvendo em comparação à trajetória padrão. Quando há um banco com tantas amostras é possível demonstrar pequenas diferenças com mais robustez," explicou Pedro Pan, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que montou o banco de dados com a colaboração de pesquisadores das universidades de Cambridge (Reino Unido) e da Pensilvânia (EUA).

Como o cérebro se desenvolve

A primeira análise dos dados permitiu confirmar experimentalmente - e, em alguns casos, até mesmo mostrar pela primeira vez - sinais que até agora só haviam sido levantados por hipóteses. Entre eles estão a idade em que as principais classes de tecidos do cérebro atingem o volume máximo e quando regiões específicas do órgão chegam à maturidade.

Em relação ao volume de substância cinzenta, há um rápido aumento a partir da metade da gestação, atingindo o pico pouco antes de a criança chegar aos 6 anos de idade. Em seguida, ela começa a diminuir lentamente.

Já o volume de matéria cinzenta na região subcortical - que controla as funções corporais e o comportamento básico - atinge o pico na adolescência, por volta dos 14 anos.

O volume de substância branca também aumenta rapidamente desde a metade da gestação até a primeira infância, atingindo o pico pouco antes dos 29 anos de idade. Seu declínio começa a acelerar após os 50 anos. "Isso mostra que o espaço de plasticidade dessas conexões vai até o início da vida adulta," explicou Pan.

A partir dos 60 anos, há um crescimento do líquido cefalorraquidiano, implicando redução do cérebro. "Atualmente esse marcador é usado na clínica como um indício indireto de envelhecimento cerebral, que pode ser associado a doenças neurodegenerativas. Algumas dessas referências para o cérebro ainda não tínhamos com essa fidedignidade," completou o pesquisador.

Até então, os cientistas sabiam que esse volume do líquido aumentava com a idade, já que normalmente está associado à atrofia cerebral, mas não tinham a dimensão da velocidade do crescimento em uma amostra tão significativa.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Brain charts for the human lifespan
Autores: R. A. I. Bethlehem et al.
Publicação: Nature
DOI: 10.1038/s41586-022-04554-y
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