As mulheres têm uma propensão muito maior do que os homens para desenvolver uma série de doenças autoimunes, como o lúpus.
A razão dessa diferença entre os gêneros tem sido largamente considerado um mistério para a medicina tradicional, especializada em desenvolver "medicamentos unissex".
Mas talvez seja necessário começar a adotar abordagens alternativas.
Um estudo detalhado sobre o problema mostrou que as "doenças femininas" podem se originar pela forma como as bactérias benéficas do intestino interagem com os hormônios sexuais.
Doenças femininas
As bactérias do trato gastrointestinal têm sido associadas com uma grande variedade de funções inesperadas, da sensibilidade à dor e a modificação de comportamento, até o desenvolvimento do sistema imunológico, o autismo e a inflamação pulmonar da asma.
Doenças autoimunes, como a artrite reumatoide e diabetes tipo 1 surgem quando o sistema imunológico ataca erroneamente seus próprios tecidos.
Muitas dessas doenças afetam desproporcionalmente as mulheres - no lúpus, por exemplo, mais de 90% dos pacientes diagnosticados são mulheres.
Alexander Chervonsky, da Universidade de Chicago (EUA), explica que estudos anteriores já demonstraram que as bactérias intestinais estão envolvidas neste efeito, mas seu papel preciso ainda não foi claramente elucidado.
Bactérias e hormônios
Em busca de respostas, Chervonsky e seus colegas estudaram um modelo animal que replica o diabetes tipo 1, uma doença na qual células do sistema imunológico atacam células saudáveis das ilhotas - células produtoras de insulina encontradas no pâncreas.
Nesses camundongos, a incidência de diabetes tipo 1 ficou entre 1,4 e 4,4 vezes mais elevadas nas fêmeas do que nos machos.
Mas este viés de gênero desapareceu quando os camundongos foram criados em condições especiais para se tornarem livre de germes, incluindo as bactérias intestinais. As fêmeas e os machos livres de germes mostraram-se igualmente suscetíveis à doença.
E, quando os animais foram expostos às bactérias intestinais normalmente presentes apenas nos machos, os machos voltaram a apresentar uma menor incidência de diabetes tipo 1, mas as fêmeas não.
Os pesquisadores então castraram os machos na época de seu amadurecimento sexual, tornando-os incapazes de produzir testosterona.
Isto fez com que machos e fêmeas produzissem bactérias similares no intestino - e a incidência da doença voltou a se equivaler entre os gêneros.
"Tomados em conjunto, nossos resultados mostram que, para estabelecer uma proteção contra o diabetes tipo 1 nos camundongos são necessários tanto os hormônios masculinos quanto a influência bacteriana," explica Chervonsky.
A equipe pretende agora elucidar as vias moleculares responsáveis por esse fenômeno, bem como o papel dos hormônios nessa interação.
Eles também pretendem estudar outros modelos de doenças, como o lúpus, que segue o mesmo mecanismo de manifestação.
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