Tecnologia prática
A tecnologia já permite acompanhar o funcionamento do nosso coração, da nossa pressão sanguínea, monitorar nosso sono, nossas ondas cerebrais, analisar quantos passos damos por dia, as características da nossa voz, as calorias que consumimos e gastamos.
Mas como usar essas informações captadas por esses inúmeros equipamentos presentes no nosso dia-a-dia para combater o estresse?
Este é o principal objetivo de um projeto que está sendo realizado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP em São Carlos (SP) em parceria com a UFSCar e a Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.
"Nossa intenção é criar um sistema capaz de identificar as emoções do usuário por meio de vários sensores, interpretá-las automaticamente e reagir de modo inteligente, sugerindo ações para alterar um estado emocional indesejado ou reforçar um estado desejado", explica o professor Jó Ueyama, um dos coordenadores do projeto.
Na prática, isso quer dizer que, se você pudesse acoplar um sistema assim ao seu celular ou ao seu computador enquanto está trabalhando, por exemplo, o equipamento seria capaz de identificar se você está em um dia bom ou em um dia ruim. Então, ele exerceria o papel daquele amigo que, quando nota que você está cabisbaixo, já convida para um café.
Nesse caso específico, pense que o amigo seria a tela de seu smartphone ou de seu computador, onde apareceria a indicação de uma indicação de uma música para você ouvir naquele dia ou um alerta sobre a necessidade de fazer uma pausa para um exercício, uma água ou um café.
Como criar um amigo virtual
Para que isso seja possível, porém, os pesquisadores terão que vencer muitos desafios, que podem ser divididos em três frentes de estudo principais: a primeira está ligada à obtenção das informações sobre o estado emocional do usuário; a segunda relaciona-se à programação da ferramenta computacional para torná-la capaz de interpretar automaticamente as informações obtidas pelos sensores; e a terceira refere-se ao envio de sugestões interessantes e pertinentes para cada usuário.
"Nossa meta é ter uma visão abrangente do estado emocional de uma pessoa. Para estimarmos esse estado com precisão, quanto mais parâmetros usarmos, melhor", explica Vinícius Gonçalves, membro da equipe.
Além das câmeras presentes em quase todos os aparelhos, que podem ser usadas para a captação de expressões faciais, também são indícios do nosso estado emocional o tempo que levamos para realizar uma tarefa, o número de pausas que fazemos e a quantidade de vezes que repetimos uma mesma ação.
Programa para o consultório
Além da criação de um amigo virtual, a tecnologia poderá ter usos nos consultórios médicos.
"Quando você vai a um oftalmologista, normalmente passamos por um pré-atendimento em que nossa acuidade visual é medida por meio de uma máquina. Estamos tentando criar um mecanismo similar para usar no consultório de um psicólogo ou de um psiquiatra, por exemplo, para mensurar o nível de estresse do indivíduo antes da consulta", revela Ueyama.
Outra possível aplicação dos resultados do projeto é o monitoramento do estado emocional de profissionais que atuam em atividades de risco como quem trabalha em um reator nuclear, em uma plataforma petrolífera, em uma estação espacial ou, ainda, desenvolvendo um software crítico para o controle de um avião. "Ao monitorar o nível de estresse dessas pessoas, estaríamos garantindo que menos erros fossem cometidos e reduzindo a possibilidade de acidentes", acrescenta o professor.
A previsão é de que o projeto seja finalizado em 2016. Até lá, mais experimentos acontecerão nas instituições parceiras, como no Hospital de Marília e na Universidade do Arizona. Entre as inúmeras aplicações possíveis do projeto no âmbito hospitalar está o desenvolvendo de aplicativos para auxiliar a recuperação de pacientes ou dependentes químicos. Nesses casos, monitorar o estado emocional e lembrar o horário adequado de tomar a medicação pode significar muito menos estresse.
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