22/02/2024

Conheça o Afetoma Humano, o código genético das nossas emoções

Redação do Diário da Saúde
Afectoma Humano
Quadro descritivo do Afetoma Humano - alguns preferem Afectoma Humano.
[Imagem: Mount Sinai Health System]

Ciência afetiva

Se você já se acostumou com campos científicos como genômica, proteômica e metabolômica, prepare-se para a mais recente tendência, um campo que pela primeira vez unirá a tradicional vertente da medicina fisiológica com o comportamento, a "afetômica".

Ômica é um neologismo da língua inglesa que normalmente se refere a um campo de estudo em biologia, saúde e, agora, em psicologia, dando suporte à medicina mente-corpo.

Para melhorar a compreensão científica de como nossos sentimentos, emoções e humores se relacionam e impactam o comportamento humano - conhecido hoje como "ciência afetiva" - uma força-tarefa interdisciplinar de 173 cientistas de 23 países criou uma estrutura integrativa que abrange a enorme gama de fenômenos afetivos que compõem o que eles batizaram de "Afetoma Humano".

Milhares de palavras são comumente usadas na linguagem científica para descrever nossos sentimentos, emoções, humores e experiências sensoriais, como cheiros, sons, sabores e imagens visuais. Essas experiências da vida cotidiana têm um impacto significativo na tomada de decisões e no comportamento.

No entanto, elas se enquadram em muitas áreas de estudo fragmentadas, pelo que os cientistas têm enfrentado um desafio de longa data para encontrar um quadro abrangente e integrador para estas experiências que possa servir como um ponto focal comum para as pesquisas científicas. Embora muitos modelos tenham sido propostos, ainda não há um consenso capaz de criar um quadro unificador que acolha todos os modelos e perspectivas adotadas nos diversos estudos.

Para resolver este desafio, o Projeto Afetoma Humano foi lançado em 2016 pela Neuroqualia, uma organização sem fins lucrativos com sede no Canadá. A força-tarefa utilizou inicialmente uma abordagem de linguística computacional para analisar dados de mais de 4,5 milhões de livros contendo cerca de meio trilhão de palavras para identificar mais de 3.600 palavras na língua inglesa que descrevem sensações, emoções e humores.

Em seguida, 12 equipes de pesquisadores revisaram o que se sabe atualmente sobre sentimentos, emoções e humores do ponto de vista da neurociência, ao mesmo tempo em que revisaram os termos linguísticos comumente usados para descrever essas experiências. O resultado é a proposta agora publicada de um Afetoma Humano.

Afectoma humano

No modelo do afetoma humano - o guarda-chuva conceitual que abrange todas as experiências afetivas - cada experiência é marcada por sua valência (positiva ou negativa) e pelo grau em que está associada a níveis de energia ou excitação.

Toda a gama destas experiências está agrupada em preocupações fisiológicas (as mais imediatas, como sentir fome), preocupações operacionais (que surgem através da interação com o ambiente, como o medo) e preocupações globais (as nossas perspectivas globais e bem-estar).

No centro deste quadro está a compreensão de que os indivíduos monitoram e administram várias preocupações simultaneamente dentro das suas próprias zonas de conforto. Quando se deparam com experiências que estão fora dessas zonas de conforto, isso cria estresse e desencadeia comportamentos restauradores que visam, em última análise, preservar o nosso bem-estar.

Aplicações

Esta estrutura será especialmente útil para o estudo de distúrbios de saúde mental que envolvem alterações graves nas emoções e no humor, como depressão e ansiedade. Também ajudará os pesquisadores a compreender melhor como os sentimentos, emoções e humores afetam a tomada de decisões e o comportamento humano, o que é particularmente importante em muitos campos.

Finalmente, o arcabouço também terá enormes implicações para o campo da inteligência artificial, onde os pesquisadores estão concentrados na criação de computadores e robôs que possam emular sentimentos e emoções humanas para uma ampla variedade de tarefas.

Checagem com artigo científico:

Artigo: The Human Affectome
Autores: Daniela Schiller, Alessandra N.C. Yu, Nelly Alia-Klein, Susanne Becker, Howard C. Cromwell, Florin Dolcos, Paul J. Eslinger, Paul Frewen, Andrew H. Kemp, Edward F. Pace-Schott, Jacob Raber, Rebecca L. Silton, Elka Stefanova, Justin H.G. Williams, Nobuhito Abe, Moji Aghajani, Franziska Albrecht, Rebecca Alexander, Silke Anders, Oriana R. Aragón, Juan A. Arias, Shahar Arzy, Tatjana Aue, Sandra Baez, Michela Balconi, Tommaso Ballarini, Scott Bannister, Marlissa C. Banta, Karen Caplovitz Barrett, Catherine Belzung, Moustafa Bensafi, Linda Booij, Jamila Bookwala, Julie Boulanger-Bertolus, Sydney Weber Boutros, Anne-Kathrin Bräscher, Antonio Bruno, Geraldo Busatto, Lauren M. Bylsma, Catherine Caldwell-Harris, Raymond C.K. Chan, Nicolas Cherbuin, Julian Chiarella, Pietro Cipresso, Hugo Critchley, Denise E. Croote, Heath A. Demaree, Thomas F. Denson, Brendan Depue, Birgit Derntl, Joanne M. Dickson, Sanda Dolcos, Anat Drach-Zahavy, Olga Dubljevic, Tuomas Eerola, Dan-Mikael Ellingsen, Beth Fairfield, Camille Ferdenzi, Bruce H. Friedman, Cynthia H.Y. Fu, Justine M. Gatt, Beatrice de Gelder, Guido H.E. Gendolla, Gadi Gilam, Hadass Goldblatt, Anne Elizabeth Kotynski Gooding, Olivia Gosseries, Alfons O. Hamm, Jamie L. Hanson, Talma Hendler, Cornelia Herbert, Stefan G. Hofmann, Agustin Ibanez, Mateus Joffily, Tanja Jovanovic, Ian J. Kahrilas, Maria Kangas, Yuta Katsumi, Elizabeth Kensinger, Lauren A.J. Kirby, Rebecca Koncz, Ernst H.W. Koster, Kasia Kozlowska, Sören Krach, Mariska E. Kret, Martin Krippl, Kwabena Kusi-Mensah, Cecile D. Ladouceur, Steven Laureys, Alistair Lawrence, Chiang-shan R. Li, Belinda J. Liddell, Navdeep K. Lidhar, Christopher A. Lowry, Kelsey Magee, Marie-France Marin, Veronica Mariotti, Loren J. Martin, Hilary A. Marusak, Annalina V. Mayer, Amanda R. Merner, Jessica Minnier, Jorge Moll, Robert G. Morrison, Matthew Moore, Anne-Marie Mouly, Sven C. Mueller, Andreas Mühlberger, Nora A. Murphy, Maria Rosaria Anna Muscatello, Erica D. Musser, Tamara L. Newton, Michael Noll-Hussong, Seth Davin Norrholm, Georg Northoff, Robin Nusslock, Hadas Okon-Singer, Thomas M. Olino, Catherine Ortner, Mayowa Owolabi, Caterina Padulo, Romina Palermo, Rocco Palumbo, Sara Palumbo, Christos Papadelis, Alan J. Pegna, Silvia Pellegrini, Kirsi Peltonen, Brenda W.J.H. Penninx, Pietro Pietrini, Graziano Pinna, Rosario Pintos Lobo, Kelly L. Polnaszek, Maryna Polyakova, Christine Rabinak, S. Helene Richter, Thalia Richter, Giuseppe Riva, Amelia Rizzo, Jennifer L. Robinson, Pedro Rosa, Perminder S. Sachdev, Wataru Sato, Matthias L. Schroeter, Susanne Schweizer, Youssef Shiban, Advaith Siddharthan, Ewa Siedlecka, Robert C. Smith, Hermona Soreq, Derek P. Spangler, Emily R. Stern, Charis Styliadis, Gavin B. Sullivan, James E. Swain, Sébastien Urben, Jan Van den Stock, Michael A. vander Kooij, Mark van Overveld, Tamsyn E. Van Rheenen, Michael B. VanElzakker, Carlos Ventura-Bort, Edelyn Verona, Tyler Volk, Yi Wang, Leah T. Weingast, Mathias Weymar, Claire Williams, Megan L. Willis, Paula Yamashita, Roland Zahn, Barbra Zupan, Leroy Lowe
DOI: 10.1016/j.neubiorev.2023.105450
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