16/01/2018

Abuso e adversidade na infância fazem coração sofrer a vida toda

Redação do Diário da Saúde
Abuso e adversidade na infância fazem coração sofrer a vida toda
A Dra. Shakira Suglia espera que suas pesquisas possam indicar como cuidar das crianças em situações de adversidade para evitar que elas desenvolvam doenças quando adultas.
[Imagem: Universidade Emory]

Coração sofre a vida toda

Crianças e adolescentes que experimentam abuso, bullying, negligência ou testemunham violência e outras formas de adversidade são mais propensos a desenvolver doenças cardíacas e vasculares depois de adultos.

Esta é a conclusão de uma revisão sistemática da pesquisa científica existente sobre o assunto e já publicada em revistas médicas revisadas por pares.

Os dados documentam uma forte associação entre experiências adversas na infância e adolescência e uma maior probabilidade de desenvolver fatores de risco como obesidade, hipertensão arterial e diabetes tipo 2 mais cedo do que as pessoas que não tiveram experiências adversas na infância.

Esses fatores de risco aumentam a probabilidade de desenvolver doenças do coração e do sistema circulatório na idade adulta, incluindo doença arterial coronariana, ataque cardíaco, derrame cerebral, pressão alta, obesidade e diabetes tipo 2.

"A verdadeira tragédia, em primeiro lugar, é que crianças estão expostas a essas experiências traumáticas. Estamos falando de crianças e adolescentes que sofrem abuso físico e sexual e testemunham a violência. Infelizmente, as consequências negativas de experimentar esses eventos não terminam quando a experiência acaba, elas duram muitos anos após a exposição," disse a professora Shakira Suglia, da Universidade Emory (EUA).

Abuso e adversidade

A adversidade é comumente definida como qualquer coisa que as crianças percebam como uma ameaça à sua segurança física ou que compromete sua família ou estrutura social, incluindo abuso emocional, físico ou sexual, negligência, bullying por colegas, violência em casa, divórcio dos pais, separação ou morte, abuso de substâncias pelos pais, morar em um bairro com altos índices de criminalidade, ser parte de uma família sem teto, discriminação e pobreza.

Como a adversidade alimenta as anormalidades cardiovasculares e metabólicas é algo ainda por ser desvendado, mas a evidência atual sugere que o comportamento, a saúde mental e as reações biológicas ao aumento do estresse têm seu papel.

Por exemplo, reações não-saudáveis ao estresse, como fumar ou comer demais, podem estar por trás do risco aumentado de doenças cardiovasculares e diabetes nesse grupo. Sabe-se que o estresse recorrente e crônico aumenta o risco de depressão, ansiedade e transtornos de humor entre crianças e adolescentes, o que, por sua vez, leva a comportamentos não-saudáveis que muitas vezes levam a doenças cardiovasculares e metabólicas. Níveis de estresse cronicamente altos ou picos repetidos podem prejudicar o desenvolvimento e o funcionamento normal das vias metabólica, nervosa e endócrina.

Os dados também mostraram que nem todas as crianças que crescem enfrentando adversidades desenvolvem doenças do coração e do sistema circulatório, uma descoberta que sugere a existência de um conjunto de fatores biológicos, ambientais, culturais e sociais que podem ajudar a reduzir o risco e prevenir o desenvolvimento da doença.

Pesquisas adicionais para entender melhor esses fatores protetores poderão, um dia, levar ao desenvolvimento de estratégias preventivas, observam os pesquisadores em seu artigo, publicado no jornal Circulation, da Sociedade Norte-Americana do Coração.

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