08/12/2022

Lecanemabe: Mais uma droga contra Alzheimer traz riscos e preocupações

Com informações da New Scientist

Lecanemabe

Um novo medicamento, chamado lecanemabe, está sendo anunciado como capaz de retardar o declínio cognitivo em pessoas com doença de Alzheimer precoce.

Também há indícios de que ele diminua as placas e emaranhados de beta-amiloide que se acumulam no cérebro, que por décadas foram considerados como responsáveis pela progressão da condição, uma hipótese que tem sido largamente abandonada nos últimos anos.

Embora possa soar como promissor, vários especialistas questionam se os efeitos são substanciais o suficiente para terem um impacto significativo nos sintomas de Alzheimer: Durante um estudo de 18 meses, composto por quase 1.800 pessoas com doença de Alzheimer precoce, 0,7% daqueles que receberam lecanemabe morreram, em comparação com 0,8% daqueles que receberam infusões de placebo, uma diferença estatisticamente não significativa.

Em um comunicado à imprensa, a empresa farmacêutica Eisai, com sede no Japão, que desenvolveu o lecanemabe, afirma que nenhuma dessas mortes estava relacionada ao medicamento. Em outubro, no entanto, uma entidade independente informou que o lecanemabe pode ter contribuído para a morte de um participante. Em 27 de novembro, a revista Science informou que um segundo participante morreu de uma hemorragia cerebral maciça que alguns pesquisadores associaram ao lecanemabe, mas a empresa se recusou a comentar o caso.

E tudo se complicou ainda mais após a polêmica aprovação nos EUA de outra droga, a aducanumabe, que também apresentou resultados questionados por inúmeros especialistas.

"Melhoria" de 0,45 em 18

O lecanemabe se liga e remove aglomerados de proteína no cérebro, conhecidos como placas amiloides. Por décadas, os cientistas acreditaram que essas placas seriam a principal causa da doença de Alzheimer, mas muitos tratamentos direcionados a elas nunca mostraram benefícios em testes, incluindo o controverso medicamento aducanumabe.

Em um estudo de fase III, pessoas de 50 a 90 anos com doença de Alzheimer inicial receberam infusões intravenosas de lecanemabe ou placebo uma vez a cada duas semanas durante 18 meses. Todos os participantes tinham indícios de acúmulo de amiloide em seus cérebros.

Christopher van Dyck e seus colegas da Escola de Medicina de Yale (EUA) mediram a função cognitiva dos participantes antes do estudo e depois a cada três meses, até o 18º mês, o que foi feito por meio de entrevistas com os participantes e seus cuidadores. Os participantes também preencheram questionários que avaliaram sua qualidade de vida antes, durante e depois do ensaio clínico.

No final do ensaio, ambos os grupos apresentaram sinais de declínio cognitivo. No entanto, ele foi 27% mais lento no grupo lecanemabe, em média, em comparação com o grupo controle. Embora isso possa parecer substancial, o efeito é bem pequeno - uma diferença de 0,45 ponto em uma escala de 0 a 18.

Efeitos colaterais

Apesar de os resultados terem sido anunciados como promissores, o estudo levantou preocupações sobre a segurança do medicamento.

Mais de 17% das pessoas do grupo lecanemabe tiveram algum grau de sangramento no cérebro, em comparação com 9% do grupo placebo. Além disso, quase 13% daqueles que receberam a droga apresentaram inchaço e inflamação no cérebro, em comparação com menos de 2% daqueles que receberam infusões de placebo.

E isso parece estar em conformidade com as conclusões mais recentes, que indicam que as proteínas beta-amiloides podem ser uma defesa do cérebro.

"Algumas pessoas dizem que o efeito dessa droga é tão pequeno que talvez não valha a pena, especialmente em pessoas com alto risco [de complicações]," disse a professora Lea Grinberg, da Universidade da Califórnia de São Francisco (EUA).

Checagem com artigo científico:

Artigo: Lecanemab in Early Alzheimer’s Disease
Autores: Christopher H. van Dyck, Chad J. Swanson, Paul Aisen, Randall J. Bateman, Christopher Chen, Michelle Gee, Michio Kanekiyo, David Li, Larisa Reyderman, Sharon Cohen, Lutz Froelich, Sadao Katayama, Marwan Sabbagh, Bruno Vellas, David Watson, Shobha Dhadda, Michael Irizarry, Lynn D. Kramer, Takeshi Iwatsubo
Publicação: The New England Journal of Medicine
DOI: 10.1056/NEJMoa2212948
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