Sem participação de células imunológicas não há AIDS
"O HIV não causa a AIDS por efeito direto do vírus nas células imunológicas do hospedeiro, mas sim através da influência letal das células imunológicas umas sobre as outras".
A afirmação contundente poderia facilmente soar como comentário de um blog radical, pouco ligado à prática científica da academia.
Ocorre que a alegação está em um anúncio oficial dos Institutos Gladstone, uma instituição de pesquisas científicas sem fins lucrativos, ligada à Universidade da Califórnia, e reconhecida mundialmente pela ciência de ponta - a nota à imprensa emitida pelo instituto tem o título "HIV não causa AIDS, células imunológicas causam".
Em um artigo científico revisado pelos pares, publicado na renomada revista Cell, a equipe do Dr. Warner Greene afirma que "a rota de morte do HIV - como 95% das células morrem pelo vírus - só é iniciada se o vírus é transmitido de célula para célula, mas não se as células forem infectadas diretamente por partículas virais livres."
"Depois de estudar o HIV por mais de 30 anos, eu não esperava ser surpreendido. No entanto, pesquisas recentes dos Institutos Gladstone mudaram radicalmente a nossa compreensão fundamental de como funciona o HIV. Nossas descobertas revelaram novas informações que poderão levar a opções de tratamento que nunca consideramos antes," revelou o Dr. Greene em um artigo de comentário publicado no site do Instituto.
Do HIV à AIDS
O HIV pode ser transmitido através do vírus circulando livremente, que infecta diretamente as células imunológicas do hospedeiro, ou por uma célula do mesmo hospedeiro já infectada, que pode transmitir o vírus a uma célula não infectada.
O que o novo estudo demonstrou é que este segundo método, a transmissão célula a célula, não apenas é de 100 a 1.000 vezes mais eficiente, como também que é apenas este método de contágio que dispara uma reação celular em cadeia que termina com as células infectadas cometendo suicídio.
"As 'unidades de extermínio' fundamentais das células T CD4 nos tecidos linfoides são outras células infectadas, e não o vírus livre," afirmou Gilad Doitsh, coautor do estudo. "E a transmissão célula a célula do HIV é necessária para a ativação da rota de morte principal do HIV."
"Embora os vírus de livre circulação estabeleçam a infecção inicial, é a subsequente propagação célula a célula do HIV que causa a morte massiva das células CD4 T," disse Nicole Galloway, membro da equipe. "A transmissão célula a célula do HIV é absolutamente necessária para a ativação da via patogênica de morte celular do HIV."
"Este estudo muda fundamentalmente a nossa mentalidade sobre como o HIV provoca a morte celular maciça, e coloca os holofotes diretamente sobre as células infectadas nos tecidos linfoides, em vez de sobre o vírus livre," reafirmou o professor Greene. "Evitando a transmissão célula a célula, poderemos ser capazes de bloquear a via de morte e parar a progressão da infecção por HIV em AIDS."
Dúvidas sobre se HIV causa AIDS
Já houve sérias controvérsias no meio científico sobre se o HIV seria o elemento causador da AIDS, ou se haveria apenas uma associação entre eles. Os mais conhecidos defensores dessa visão alternativa são os cientistas Peter Duesberg e Walter Gilbert, este ganhador do Prêmio Nobel de Química em 1980.
Muito se discutiu e se escreveu sobre os argumentos de ambos os lados, mas um consenso científico - uma análise dos resultados dos experimentos científicos feitos até então que chega a uma conclusão compartilhada pela maioria dos cientistas - havia posto uma pedra sobre o assunto.
A Wikipedia até ganhou um verbete, intitulado "Negacionismo da SIDA", que afirma, em uma linguagem típica desse tipo de controvérsia, que "as alegações negacionistas da SIDA são pseudociência baseada em teorias da conspiração, argumentação falaciosa, manipulação de dados e má interpretação de dados científicos na sua maioria obsoletos".
Assim, é de esperar que os novos resultados obtidos por uma equipe renomada e não envolvida em teorias da conspiração ou pseudociência acirrem novamente os ânimos da área.
Enquanto isso, a população aguarda que os cientistas livrem-se do apego às teorias e enfrentem a realidade sem preconceitos - uma realidade chamada AIDS que afeta milhões de pessoas em todo o mundo e que merecem ser cuidadas e alcançar a cura, quaisquer que sejam os fatores causadores da doença.
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