Tratamentos para as doenças tropicais
O recém-criado Instituto Nacional de Biotecnologia Estrutural e Química Medicinal em Doenças Infecciosas (INBEQMeDI) terá como objetivo o desenvolvimento de novos fármacos para o tratamento de doenças endêmicas do País, principalmente, leishmaniose, esquistossomose, doença de Chagas, malária e leptospirose.
É o que atesta o coordenador Glaucius Oliva, diretor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP. "Nosso Instituto tem como foco os estudos estruturais e biológicos em alvos moleculares específicos de microorganismos associados com essas doenças tropicais", explica.
O novo Instituto, coordenado por Oliva, teve recursos aprovados da ordem de R$4,8 milhões, inseridos no maior investimento feito em redes de pesquisa no País, R$553 milhões, aplicados em 101 Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) nos próximos três a cinco anos.
Referência mundial em doença de Chagas
"Nos últimos 8 anos temos conduzido projetos inovadores em biotecnologia estrutural e química medicinal, incluindo o desenvolvimento de patentes, transferência de tecnologia e disseminação da ciência por meio de diversos programas dedicados aos alunos e professores do ensino médio, bem como à população em geral", afirma.
"Outro fator fundamental para este novo projeto é o fato de termos sido recentemente selecionados pela Organização Mundial da Saúde, por meio de seu Programa de Pesquisas em Doenças Tropicais (TDR), como centro de referência mundial de química medicinal em doença de Chagas," diz Oliva.
Doenças negligenciadas
De acordo com o coordenador, as chamadas doenças "negligenciadas" constituem um dos grandes desafios da ciência moderna.
"A dura realidade de milhões de mortes anuais, além do terrível impacto na já precária qualidade de vida das pessoas afetadas por estas enfermidades, nos coloca a urgência de dedicarmos nossas mais poderosas ferramentas científicas para uma melhor compreensão das causas e características das doenças tropicais e, assim, avançar na descoberta e desenvolvimento de novos fármacos", reitera.
"Há, hoje, no cenário internacional, forte interesse, tanto dos cientistas como de organizações governamentais ou não, em apoiar e realizar pesquisas de fronteira na biologia dos parasitas e na busca de moléculas inovadoras que possam ser usadas para a prevenção, tratamento e cura destas doenças. Nosso projeto, portanto, está alinhado com outras iniciativas de ponta, tanto no Brasil como no exterior."
Trabalho interdisciplinar
Sediado no IFSC, o novo Instituto será organizado em uma rede que contará com um time de dez docentes pesquisadores, entre físicos, biólogos e químicos, somados a algumas dezenas de pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos, alunos de iniciação científica e técnicos especializados.
"Esse grupo vem trabalhando de forma integrada e fortemente interdisciplinar no estudo da estrutura e função de proteínas-alvo em parasitas", informa Oliva. Ao grupo somam-se parasitologistas, bioquímicos e farmacêuticos de outras cinco unidades da USP, como os Institutos de Biociências, Ciências Biomédicas e de Química e as Faculdades de Medicina e Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto.
Malária e leptospirose
Para se ter uma idéia do trabalho que os integrantes do Instituto terão pela frente, no caso da malária o foco será nas vias de sinalização que controlam o ciclo celular do Plasmodium falciparum.
Outro estudo se dedicará às proteínas Lip32 e Lp19, da bactéria que causa a leptospirose, envolvidas na patogênese da doença por sua habilidade em desencadear resposta inflamatória no hospedeiro humano.
"Em todos os casos, elucidada a estrutura do alvo, partiremos para o desenvolvimento de moléculas que ataquem estas proteínas, por síntese química ou busca de produtos naturais, secundada por ensaios in vitro e in vivo, visando a validação destas moléculas como candidatos a novos fármacos."
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