A ciência muda. Sempre.
Com toda a comunidade científica mundial trabalhando para tentar compreender a doença e nos defender contra o novo coronavírus, é inevitável que sejamos inundados com notícias o tempo todo.
Às vezes, é como tentar beber água de uma mangueira de incêndio, uma torrente de manchetes trazendo novas hipóteses sobre a covid-19, discussões sobre se devemos aumentar as restrições ou começar a reabertura, preocupações sobre se exageramos ou não fizemos o suficiente e muitos, muitos palpites e pontos de vista debatidos acaloradamente.
O que cabe a cada um de nós é buscar identificar e compartilhar informações sólidas, detectando quando as mensagens ou reportagens trazem desinformação e exagero.
"Pode ser difícil avaliar todas as novas informações que chegam, especialmente quando estamos sob estresse. Mas isso torna ainda mais importante que nos concentremos no compartilhamento e na ação das informações mais confiáveis e confirmadas," pondera o professor Preeti Malani, da Universidade de Michigan, (EUA).
Então, como você pode navegar nesse ambiente de notícias rápidas tentando ser o mais criterioso possível? Aqui estão algumas dicas.
1. Entenda que a ciência muda. É para isso que ela foi projetada e é assim que ela funciona.
O vírus SARS-CoV-2 ainda é novo, mesmo seis meses após o início da pandemia. Os cientistas e médicos estão trabalhando muito rapidamente para entendê-lo, usando ferramentas e fontes de dados que nem estavam disponíveis alguns anos atrás.
Pode parecer uma eternidade o tempo desde que o mundo começou a enfrentar as restrições relacionadas ao novo coronavírus, mas em termos científicos seis meses é apenas um piscar de olhos. Os estudos levam tempo, bastante tempo.
Toda vez que uma equipe científica compartilha novas descobertas, eles adicionam dados às informações disponíveis para uso de outros especialistas. E, juntas, essas informações podem ajudar com decisões sobre tudo, desde a abertura de escolas, o tratamento de pacientes, até o projeto de vacinas.
Por natureza, informações baseadas na ciência podem e devem mudar: A coisa certa a fazer há três meses, ou mesmo um mês atrás, pode não ser o certo a ser feito no próximo mês, à medida que os cientistas descobrem mais e contam com novas informações que alteram suas conclusões iniciais.
Portanto, se alguém comentar: "Eles nos disseram o contrário em abril!", ou reclamar que acabou de ler uma notícia que contradiz outra notícia de algumas semanas atrás, é crucial lembrá-los de que a ciência funciona assim mesmo e que os cientistas estão fazendo o possível para resolver uma emergência global causada por um novo vírus.
2. Lembre-se do velho ditado: "Melhor prevenir do que remediar"
O ditado é velho, mas é o princípio norteador da maioria das autoridades de saúde pública, que quase sempre se concentram em trabalhar para evitar algo ruim ou abordá-lo o mais cedo possível, em vez de tentar interferir depois que a coisa já começou.
Portanto, mesmo que os cientistas descubram novos dados sobre como o coronavírus se espalha de uma pessoa para outra, ou sobre quem corre maior risco de contrair o vírus, as autoridades de saúde pública podem seguir os conselhos que deram antes. Eles não mudarão de rumo apenas porque um estudo diz algo novo - eles vão esperar as evidências se acumularem para ver se aquelas mudanças sobre as quais falamos no tópico anterior não contradizem o experimento.
Os especialistas chamam isso de "princípio da precaução." E agora, isso significa usar máscaras em ambientes fechados, manter distância dos outros, lavar as mãos e, acima de tudo, manter as pessoas doentes em casa e proteger as pessoas mais velhas ou com certas condições de saúde.
3. Manuseie com cuidado especial a ciência do "à primeira vista"
A ciência médica geralmente se move lentamente por um motivo: para dar a outros cientistas a chance de criticar o trabalho e ponderar sobre as argumentações e conclusões. Isso acontece em palestras, conferências e no processo de revisão anônima de artigos publicados, chamada "revisão pelos pares" - um artigo científico só é publicado depois de uma primeira avaliação por outros especialistas da área.
Esses freios e contrapesos não são infalíveis, mas foram projetados para impedir que a ciência ruim - sim, ela existe - chegue longe demais. E se "descobertas" falhas ou alegações exageradas vierem à luz do dia, a comunidade científica poderá criticá-la e fazer o conhecimento retornar ao estágio anterior, já que a alegada "descoberta" não se sustentou. Eles também podem pedir correções ou mesmo retratações, cancelando a publicação de um artigo - você dificilmente ouvirá falar disso pela imprensa.
Mas a urgência que os cientistas sentem em estudar a covid-19 está levando muitos deles a considerar a publicação de seus trabalhos como "pré-impressões", uma forma de publicação científica apressada que significa que novos resultados ficam disponíveis on-line antes mesmo da revisão dos pares.
A ideia original desses repositórios de artigos não revisados era convidar outros cientistas a lê-los e criticá-los abertamente, e obter novas descobertas no mercado de ideias. Mas, nesse período de emergência e de urgência, qualquer pessoa, incluindo repórteres, pode compartilhá-los nas mídias sociais ou escrever histórias sobre eles. E isso pode levar as pessoas a tirar conclusões prematuras, especialmente quando se trata de tomar decisões sobre prevenção ou tratamento. Lembre-se: Só porque o doutor fulano de tal falou não significa que aquela conclusão seja compartilhada pela comunidade científica.
Mais do que isso, mesmo que um artigo sobre a covid-19 passe por uma forma rápida de revisão pelos pares e seja publicado em uma revista médica, a pressão para trabalhar em alta velocidade pode tornar mais provável a ocorrência de erros ou exageros.
Já nos primeiros meses da pandemia, vários estudos que obtiveram grande cobertura noticiosa e atenção da mídia social quando foram publicados como pré-impressões ou artigos de periódicos pouco conhecidos foram retirados ou corrigidos. Mas, a essa altura, o estrago estava feito: Milhares de pessoas usaram drogas que se mostraram mais prejudiciais do que úteis, e falsas esperanças foram levantadas e depois frustradas.
Portanto, ao ler as notícias da covid-19, pare por um momento e procure a fonte das informações. O artigo sobre um estudo científico é publicado em uma revista ou online como pré-impressão? Se você não souber, pode ser bom verificar se alguma outra organização de notícias já cobriu o mesmo estudo. Só porque um repórter é o primeiro a cobrir uma nova pesquisa não significa que ele tenha feito o melhor trabalho. Os repórteres podem mencionar a palavra "pré-impressão" em suas histórias sobre as novas pesquisas da covid-19 - se o fizerem, tome mais cuidado.
E, se um artigo de notícias não mencionar nem mesmo uma pré-impressão ou trabalho de pesquisa, tenha ainda mais cautela. Uma reivindicação sobre algo tão importante quanto os cuidados com a covid-19 deve ser apoiada por evidências sólidas, uma vez que vidas humanas estão em jogo.
4. Verifique e verifique novamente antes de compartilhar.
A era das mídias sociais, de blogs, sites dos próprios pesquisadores e de "organizações de notícias" - geralmente com pontos de vista muito "contundentes" - torna mais difícil do que nunca saber em quais informações confiar.
Alguns grupos estão lutando contra essa situação. Por exemplo, as empresas de mídia social começaram a rotular alguns tipos de notícias como mais confiáveis do que outros, ou a atribuir status "verificado" às contas do Twitter de especialistas em determinados campos relacionados à covid. Os principais meios de comunicação estão disponibilizando gratuitamente suas matérias sobre a covid-19, escritas por repórteres experientes de ciência e saúde. E sites de verificação de fatos e esforços floresceram.
Mas, na maioria das vezes, é fácil que informações ruins cheguem mais rápido que as boas. E elas podem circular especialmente rápido se reforçarem o que as pessoas já acreditam ou o que querem que seja verdade.
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