05/06/2017

O caso dos bebês expostos ao zika que não tiveram microcefalia

Com informações da Agência Fapesp
O caso dos bebês expostos ao zika que não tiveram microcefalia
Cerca de 28% dos bebês nasceram com alterações neurológicas leves, mas nenhum caso de microcefalia foi registrado no grupo estudado no interior de São Paulo.
[Imagem: Sharon Pruitt/PinkStock Photos/Wikimedia]

Zika sem microcefalia

Pesquisadores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, estão acompanhando há cerca de um ano um grupo de 55 mulheres que tiveram diagnóstico confirmado de zika durante a gestação.

Todas levaram a gravidez até o final. Os bebês nasceram vivos e nenhum caso de microcefalia ou de qualquer alteração neurológica grave foi identificado.

"Cerca de 28% dos bebês apresentaram alguma alteração no nascimento, como pequenas calcificações no cérebro, pequenas lesões em vasos cerebrais, surdez unilateral ou danos à retina. Alguns deles apenas tinham o vírus no organismo, mas não apresentavam sintomas. E nenhuma alteração neurológica mais grave foi observada," relatou o professor Maurício Lacerda Nogueira.

De acordo com o pesquisador, todas a crianças incluídas no estudo teriam sido consideradas normais pelos serviços de saúde e não teriam os sintomas identificados se não estivessem participando de um protocolo de pesquisa.

Efeitos diferentes do zika

O padrão observado no interior de São Paulo, segundo Maurício, é muito diferente do que tem sido verificado em estados da região Nordeste ou mesmo no Rio de Janeiro.

Um estudo publicado em 2016 no New England Journal of Medicine por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) constatou que 39,2% das grávidas infectadas com o vírus no Rio de Janeiro tiveram bebês com alterações neurológicas importantes e 7,2% das gestações não chegaram ao fim - totalizando 46,4% de desfechos adversos. Foram incluídas nesse estudo 125 gestantes com diagnóstico confirmado de zika. Quatro bebês nasceram com microcefalia, pouco mais de 3% da amostra estudada.

"O estudo feito no Rio foi a primeira descrição de zika em gestantes. Agora, estamos adicionando uma nova população, em um novo ambiente, e os resultados são muito diferentes. Estamos mostrando um novo quadro da infecção por zika na gravidez," comentou Maurício.

Outro estudo, feito em Salvador (BA) por Albert Icksang Ko, pesquisador da Universidade Yale (EUA) em parceria com a Fiocruz, também mostrou resultados diversos. "Encontramos um quadro completamente diferente do observado em São José do Rio Preto. Cerca de 10% dos bebês nasceram com alterações congênitas graves, entra elas microcefalia", disse Ko.

Em busca de respostas

De acordo com o Dr. Maurício, inicialmente os cientistas acreditavam que desfechos gestacionais tão discrepantes se deveriam à existência de populações do vírus geneticamente diferentes no Brasil.

"Essa hipótese já foi afastada, pois trabalhos recentes mostraram que a diversidade do zika ainda é pequena nas Américas. Basicamente, o vírus que circula aqui em [São José do] Rio Preto é o mesmo encontrado na Bahia ou no Rio de Janeiro. Portanto, se a diferença não está no vírus, deve estar no hospedeiro humano. Algum fator genético pode estar conferindo proteção a certas pessoas ou, talvez, a exposição prévia a outros vírus," disse ele.

Dados do trabalho feito por Ko na Bahia sugerem que a presença de anticorpos contra o vírus da dengue nas gestantes avaliadas foi associada a um menor risco de microcefalia nos filhos, mas novos estudos precisam ser feitos para confirmar esse resultado preliminar.

Também será necessário unificar os dados obtidos em São Paulo, no Rio de Janeiro e nos estados do Nordeste para compará-los em conjunto. "Tudo isso ainda precisa ser avaliado com cuidado e em um número grande de pacientes para obtermos respostas mais precisas", disse Maurício.

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