27/09/2011 Você quer viver até os 150 anos?Redação do Diário da SaúdeDelírios O professor George Church, da Universidade de Harvard, teve seus quinze minutos de fama esta semana ao afirmar que os humanos viverão de 120 a 150 anos. Ele não foi o primeiro a dizer isto, e certamente não será o último. O geneticista Aubrey de Grey, por exemplo, diz não apenas que o homem viverá 150 anos, mas que o primeiro humano que viverá 150 anos já nasceu. E ele vai além: para Grey, a primeira pessoa que viverá 1.000 anos nascerá nos próximos 20 anos. Em alguns casos, como no de Church, é difícil separar o que é previsão científica daquilo que é entusiasmo ingênuo ou daquilo que é simples anseio de fama. No caso de Grey, a separação do joio do trigo é bem mais fácil, porque é difícil enxergar algum trigo. Expectativa de vida Mas a discussão encerra temas interessantes, de grande interesse para toda a sociedade. A expectativa de vida do homem moderno é cerca do dobro da expectativa de vida de um europeu durante a Idade Média. De 1970 a 2005, duplicou a probabilidade de uma pessoa com 65 anos chegar aos 85 anos. Os progressos no campo da higiene, da alimentação e dos tratamentos médicos têm tido resultados entusiasmantes, o que nos faz ver a afirmação de que o homem viverá 150 anos no futuro como algo quase óbvio. Contribuições da genética Apesar do grande apelo na mídia, contudo, a genética ainda não produziu resultados nesta área. A anunciada descoberta de um "gene da longevidade", por exemplo, já foi devidamente desmentida. Mas isto é temporário e, de fato, espera-se que a genética dê resultados na área da longevidade, embora já se saiba que o DNA não tem todas as respostas. Mas a discussão principal não é quantos anos a mais viveremos, mas como os viveremos. Viver mais doente A onda de privatizações que dominou o mundo nos anos 1980 e 1990 praticamente deixou todo o desenvolvimento de medicamentos nas mãos de empresas privadas. Exemplos como os da Fiocruz no Brasil são cada vez mais raros. Como empresas privadas precisam de lucros constantes, nos anos recentes a chamada "Big Pharma" centrou todos os seus esforços em medicamentos de uso contínuo, porque medicamentos para doenças crônicas garantem lucros continuados. Desta forma, o foco do desenvolvimento de medicamentos atualmente não está em "curar doenças", mas em fazer o paciente viver mais, ainda que seja em uma cama de hospital ou em uma vida parcial dentro de casa. Uma pesquisa recente, realizada nos Estados Unidos, onde o acesso à saúde é muito mais homogêneo entre a população, mostrou que, apesar de estarem vivendo mais, as pessoas estão passando um percentual maior de suas vidas doentes. "Nós temos assumido que cada geração será mais saudável e viverá mais do que a anterior. No entanto, a pressão da morbidade pode ser tão ilusória quanto a imortalidade," afirmou o Dr. Eileen Crimmins, da Universidade da Califórnia. E isto nem vale para toda a população porque restou um monte de doenças negligenciadas pelas grandes empresas farmacêuticas, para as quais sobra o esforço de um grupo de cientistas abnegados, que nunca conseguem colocar suas descobertas no mercado porque as instituições públicas das quais fazem parte não têm a estrutura necessária para a comercialização. Mas, ao menos estes grupos fazem um trabalho de verdadeiros cientistas, em busca de curas para os doentes, em vez de repetidos lucros para suas empresas à custa de decisões eticamente discutíveis. Um trabalho bem mais digno do que simplesmente ficar tentando chamar a atenção para si próprios, como os "divulgadores da imortalidade" fazem. É esta classe de cientistas que nos permitirá, no futuro, viver 150 anos de fato, como pessoas ativas e com qualidade de vida. Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br URL: https://diariodasaude.com.br./print.php?article=viver-ate-150-anos A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos. |