26/10/2020

Tosse boa e tosse ruim originam-se em partes diferentes do cérebro

Redação do Diário da Saúde
Tosse boa e tosse ruim
Tem havido seguidos alertas contra o uso de remédios opioides para tosse e resfriado em crianças, além do que os pais continuam usando remédios contra tosse em bebês, apesar dos alertas.[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Tosse boa e tosse ruim

Você sabia que nem todas as tosses são ruins?

E, melhor ainda, você sabia que agora poderá ser possível tratar uma tosse incômoda em uma doença sem interromper a tosse protetora de que precisamos para uma saúde pulmonar ideal?

Michael Farrell e seus colegas das universidades Monash e Melbourne (Austrália) afirmam que estas descobertas têm implicações muito importantes para a compreensão e para tratamentos futuros dos distúrbios da tosse, porque parece que diferentes tipos de tosse usam diferentes circuitos cerebrais.

O ato de tossir geralmente começa com um estímulo irritante dentro da laringe, vias aéreas ou pulmões, estímulo esse que ativa os nervos sensoriais que provocam tosse, na tentativa de expulsar um potencial corpo estranho.

Esses nervos sensoriais transmitem essa informação ao cérebro, onde a informação modifica as ações dos músculos respiratórios, para produzir a tosse. Esses sinais às vezes também são combinados com sinais de "ordem superior", que fazem sua garganta coçar, fazem você se sentir irritado ou ansioso por ter tosse e permitem que você suprima ou intensifique a tosse voluntariamente.

Pesquisas anteriores em animais e em humanos concluíram que o cérebro processaria todas as entradas dos nervos sensoriais da tosse em uma única área.

Mas, ao fazer experimentos mais detalhados e com mais rigor, os pesquisadores australianos demonstraram que a tosse é ser disparada de diferentes pontos do cérebro, de acordo com sua natureza.

Substâncias que causam tosse

A equipe descobriu que vias diferentes no cérebro estão envolvidas na resposta a uma tosse boa (necessária para limpar as vias aéreas, para garantir a saúde pulmonar ideal) ou a uma tosse ruim (um sinal de doença).

Além de estudar cobaias, a equipe convocou voluntários humanos, que foram submetidos a testes comportamentais para avaliar a sensibilidade do reflexo da tosse, seguidos por imagens cerebrais funcionais em um escâner de ressonância magnética enquanto os voluntários inalavam diferentes substâncias químicas.

Um dos estímulos químicos disparadores da tosse foi a capsaicina, o componente ativo da pimenta malagueta e conhecido por ativar dois subconjuntos de nervos sensoriais das vias aéreas envolvidos na tosse.

Outro estímulo químico foi o trifosfato de adenosina (ATP), mais conhecido como a molécula de energia nas células, mas que também ativa seletivamente um dos dois subconjuntos de nervos sensoriais envolvidos na tosse.

O estímulo químico final foi uma solução salina, usada como um estímulo de controle porque não ativa nenhum nervo sensorial. Varreduras de tronco encefálico de alta resolução foram coletadas durante repetidas apresentações aleatórias desses estímulos, e as varreduras foram analisadas para identificar onde as respostas neurais à capsaicina e ao ATP estavam localizadas no tronco cerebral.

Qual a origem da tosse?

O resultado mostrou que a inalação de capsaicina ativa tanto o núcleo do trato solitário quanto a área do tronco cerebral que contém o núcleo paratrigeminal, enquanto a inalação de ATP ativou apenas o núcleo do trato solitário.

"Estamos agora realizando um estudo semelhante comparando como essas duas redes cerebrais diferentes respondem em pacientes com tosse crônica incômoda, em comparação com participantes saudáveis. Este novo estudo também é motivado por resultados de ensaios clínicos recentes, que mostram uma ação supressora da tosse promissora por drogas que inibem os receptores de ATP.

"Como o ATP está envolvido na tosse é algo não totalmente compreendido. Suspeitamos que a responsividade ao ATP pode mudar em pacientes com tosse crônica e o circuito de tosse recém-identificado no cérebro pode estar envolvido nessa mudança," disse o professor Stuart Mazzone, coordenador da equipe.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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